Vivi mais da metade de minha vida dentro da Polícia Federal e fui além do tempo necessário para aposentadoria forçada. Para surpresa de muitos, se tivesse que eleger meus piores dias na instituição (pessoal e profissional), certamente foi durante a gestão do Partido dos Trabalhadores. Se de um lado sofri, hoje, aquele infortúnio me serve como selo de isenção no que digo sobre o PT. Não tenho saudade de governo algum, nem de PF alguma antes de Lula/Dilma. Tenho sérias dúvidas quanto a coerência moral e cidadã dos que dizem o contrário, e mais incertezas ainda quanto ao caráter idôneo dos que dentro ou fora daquela instituição gritaram “Fora Dilma”.
Nasci pobre e continuo pobre. Se ser corrupto é ter dinheiro roubado não o tenho. Na PF, atuei entre outras áreas na corregedoria, unidade na qual busquei o aprimoramento ético e moral dos servidores e melhores resultados da atividade fim. Como representante sindical, transformar aquela autarquia em serviço público e em polícia cidadã foi uma obsessão utópica nunca negligenciada. Dentro da PF, combati as ingerências políticas e não foram raros os momentos nos quais entrei em choque com a administração, contrariei interesses de chefes de plantão.
Nesse sentido, não sei o que passa na cabeça de aparentes homens de bem, de dentro ou de fora da PF, até no seio de minha família, quando imaginam que defendo corrupto e/ou a corrupção. Só mesmo o ódio disseminado pelo coronelismo eletrônico pode ser determinante para esse travamento mental. Sequer se dão ao trabalho de elaborar questões elementares, do gênero: se ele não é ladrão, o que esse cidadão está querendo dizer? Se teve uma vida assim ou assado, qual sua real preocupação? Por que não incensa Sérgio Moro e sua equipe? Por que não assina os abaixo-assinados oriundos da legião messiânica da Republiqueta de Curitiba?
Não sou jurista, intelectual, nem aceito rótulos. Sou um cidadão inquieto diante das injustiças sociais, atormentado com o descaso quanto à base da pirâmide de Maslow. O secular flagelo humano é meu eixo de pensamento, pano de fundo, questão preliminar em minhas análises conjunturais. Desse modo, não consigo me desconectar de uma ideia: se 500 anos não foram suficientes para tornar nossa sociedade mais justa, os tímidos doze anos petistas menos ainda. Mas, certamente, são doze anos que entram para a história como a mais fértil semente de justiça lançada sobre o solo pindorama. Diante disso, a pior fase de minha história pessoal e funcional dentro da PF perde em importância.
Não sou um órfão do PT nem de gestão nenhuma. Nunca perdi “boquinha” na PF e quanto mais o tempo passa, mais vejo gatos nas tubas da PF. Quaisquer sons que delas brotam saem um “word behind words” (palavras por trás das palavras), como dizem os ingleses. Os delegados perderam o discurso e a burra ideia de que o problema do Brasil é o PT faliu. Não afinam um discurso sólido diante da evidência do golpe. A “Farsa Jato” veio para destruir Lula/PT e os rumores de abafa são para salvar Temer/PSDB. O novo impostor da pasta da Justiça não reconhece a instituição e para ele Farsa Jato é Ministério Público – uma afronta aos delegados que carregam o piano.
Portanto, caríssimos, o “Fora Leandro Daiello” perdeu força e um magote de puxa-saco já o defende. Daiello seria a garantia da caça ao PT e de impunidade de Fora Temer. A luta para que a Farsa Jato seja “erga omnes” (para todos) é tão utópica quanto a esperança de que o ex-stf retome a ordem democrática e anule o golpe. Desse modo, enquanto o lixo se acumula, os urubus vagueiam lá no alto. O obscuro urubu que sobrevoa o céu do Brasil se confunde com o preto-toga e o preto colete-federal. Eis a estranha metáfora que os delegados da PF se recusam a entender.
Os delegados da PF precisam de humildade para reconhecer que foram usados. Precisam provar que não são Patos da Fiesp e abrir seus arquivos! Organizem-se, conversem com a delegacia de combate aos crimes ambientais e mostrem quem compra ilhas, polui os rios, devasta nossas florestas e contrabandeia nossos biomas. Dialoguem com a delegacia de crimes fazendários e mostrem por que a rua 25 de Março sonega num dia o faturamento de muitos municípios em um mês. Mostrem por que se apreende mais droga que vai para o exterior do que a destinada ao consumo interno.
Já que Sérgio Moro banalizou a quebra de sigilo em nome do interesse público, até os de natureza presidencial, esqueçam as tubas. Ponham a boca no trombone. Abram os arquivos da delegacia de repressão ao crime organizado e de combate à corrupção. Mostrem ao país quem são os verdadeiros cânceres do Brasil, sem balelas de comunismo, Foro de São Paulo, exército Cubano ou Chinês. Provem que os interesses nacionais vão além do pedalinho e do game dos netos do Lula, do tríplex, cujo real dono já está sendo executado para pagar condomínio e imposto. Lula/Dilma/PT nunca foram problemas para o Brasil. Mas, se pensar isso lhes dói, melhor brincar de “Fora Leandro” e pensar que defendo corrupto, que sou um esquerdopata...(Armando Coelho Neto)
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