domingo, 13 de novembro de 2011

ASTRONOMIA JAPONESA MOSTRA A TERRA EM MOVIMENTO

A agência de exploração aeroespacial japonesa (JAXA) gravou imagens da Terra através de telescópio enviado à Lua. Kaguya é o nome dado pelos japoneses ao ônibus espacial que levou os equipamentos. Chama-se ISAS (Institut of Epace an Astronautical Science) e NASDA (Nacional Space Developent Aphcy) responsáveis pelos trabalhos na Lua. Tenho observado em vídeos que telescópios cada vez mais avançados estão dando verdadeiros shows de imagens captadas do Universo. Os cientistas sabem calcular velocidades dos astros, distância, consistência e bem mais. Quando os americanos pousaram na Lua não levaram um telescópio para de lá observar o nosso planeta e também confessaram não ter visto estrelas porque de dentro da nave ficava difícil. Para mim chega de telescópio voltado para o Universo. Ainda existe muitas pessoas querendo provas do Movimento de Translação (caminhada da Terra em volta do Sol). Um vídeo de duração de um minuto não prova nada. Precisamos de filmes de longa duração, mostrando a Terra enlouquecida e botando fumaça através dos vulcões para dar a volta em torno do Sol. Quando o supersônico Concorde (avião francês) saiu da órbita da Terra (atravessou a barreira do som) observaram o Movimento de Rotação (excelente prova). E como fica o movimento em torno do Sol (Movimento de Translação) se os satélites artificiais com telescópios não conseguirem mostrar esta velocidade? E por que não é visível esta corrida? E se visível porque não mostrá-la? A Terra gira em torno Sol numa velocidade de 107.255 Km/h para percorrer a órbita do Sol de 940.000.000 Km. Você embarcaria numa nave espacial para andar nessa velocidade? E por que não percebemos que o nosso planeta é tão veloz? Vejo as pesquisas adiantadas, vejo o céu de baixo para cima, mas continua o enigma da "valsa" do astro (Terra), visto de cima para baixo.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

TERRAS DO SEM-FIM - Jorge Amado

       Jorge Amado nasceu em Ferradas em 1912. Era filho de plantador de cacau.  Iniciou a vida de romancista e político aos 19 anos. Escreveu Terras do sem-fim em 1942, na 3ª pessoa. Um romance de ficção escrito na 2ª fase do Movimento Modernista, com preocupação com a sociedade. Realista quando conta a história dos plantadores de cacau pela experiência vivida com o seu pai  que  sofreu tocaia na luta pela busca da terra a qualquer preço. Tem como tema a conquista da terra por meio da violência, para extrair o capital. Naturalista, nos relatos da  terra exaurida pelos plantadores sem nenhum escrúpulo. Derrubavam as matas, afastavam os índígenas, aves e toda a espécie animal. O narrador é onisciente, ou seja constata os acontecimentos, ora passados no Brasil, ora presentes e distantes no exílio, de onde escreve. A trama é empregnada de desabafo pelo autor numa crítica a sociedade ruralista ou tradicionalista, onde predominava o latifúndio e o coronelismo.
    O autor era militante do Partido Comunista e prega a injustiça social (os que ficaram sem terra) e também denúncia a destruição das matas e fala dos homens recém chegados: "Vinham de outras terras, de outros mares, de próximo de outras matas, mas de matas já conquistadas, rasgadas por estradas, diminuídas pelas queimadas, matas de onde já haviam desaparecido as onças e onde começavam a rarear as cobras".
       Vivemos um momento da discussão do novo Código Florestal. Temos o deputado Aldo Rabelo como Relator da Comissão Especial e figura chave da reforma, também do Partido Comunista. Duas figuras do mesmo partido, Jorge Amado com preocupações com as nossa florestas, Aldo Rabelo mexe no Código sem necessidade porque  a nova proposta em nada vai beneficiar na conservaçao das nossas matas.
    Mostra como era conseguida as terras pelos mais fortes em detrimento dos mais fracos ou a exploração do homem pelo homem. Era o surgimento do capitalismo rural. Paixões, traições fazem parte do romance. Linguagem enxuta própria dos modernistas da 2ª fase. Trata de eleições, economia regional, o cacau. Aparece claramente o patriarcalismo quando o Coronel Badaró agrega o próprio irmão que não manda matar, mas também não faz nada. Aparece o clientelismo com a compra de votos em troca de "pedaços de paraiso". Critica o clero: "O padre Paiva era caudilho político (andava armado) dos Badarós em Mutuns, nas eleiões trazia levas de eleitores, diziam que ele prometia verdadeiros pedaços do paraíso e muitos anos de vida celestial aos que quisessem votar com ele. Era vereador em Ilhéus e não se interessava o mínimo pela vida religiosa da cidade"     A notícia das terras próprias para o cultivo do cacau se espalhou e da Bahia partiam navios com pessoas até do Norte do Brasil. Terras do sem-fim leva este nome porque todos partiam de longe para um lugar ao sul da Bahia sem fim e a medida que o navio se afastava deixavam para trás terras, também sem fim, "o fim do mundo".  Escreve o narrador: "Outras terras ficaram distantes, visões de outros mares e de outras praias ou de um agreste sertão batido pela seca, muitos dos que vão no navio deixaram um amor... uma canção que jamas voltarão, que nestas terras a morte os espera atrás de cada árvore". 
     Uma outra explicação para o título, Terras do sem-fim, seria a violência "sem limite", nas terras promissoras, ou as "múltiplas maneiras", para o enriquecimento que as terras prometiam, o capital, a plusvalia, o cálculo da ganância sempre detonando o homem e a natureza.


                                                    "Meu amor eu vou me embora
                                                     Nunca mais eu vou voltar.
                                                     Nestas terras eu vou morrer".
        
      Usa de metáfora para representar a violência travada no sul da Bahia e assim descreve a lua vista do navio: "E a lua é vermelha como sangue" ou ainda "O luar se derrava em sangue".
     Emprega a lua para representar presságio: "Banhado pela luz vermelha de uma lua de presságios, o navio cortava as águas...".
      Emprega metáfora para demostar a angústia vivida pelo homem naquele lugar: "A mata inteira ri dele, a mata toda grita aquelas palavras, a mata toda aperta o seu coração, dança na sua cabeça" Ainda: "A mata se sacode em riso, se sacode em pranto..."
     Sociológico quando a objetividade se faz presente, os coronéis são decididos a tomar  posse das terras através da morte pelos contratados, os jagunços, portanto um romance social.
     As trapaças começam no navio:  "Riu, se recordando do engenheiro. Um pato... Aquele de pôquer não entendia nada, deixara mesmo tudo que tinha, até o anel".
      Retrata a miséria nas proximidades do porto: "...agora o navio ia bem próximo à terra na saída da barra. Na frente de uma casa triste de barro, dois garotos nus, de enormes barrigas, gritavam para o navio que passava".
      Os passageiros do navio sabiam e comentavam histórias dos coronéis.
     "__ Tu sabes mesmo o que é que tu vai ser nas roças do Coronel Horácio? Tu vai ser trabalhador ou tu vai ser jagunço? Homem que não mata não tem valia pro coronel..."
    " __Mas é dinheiro desgraçado, um dinheiro que parece maldição...a gente faz uma roça..."
    "__ Já  ouviram falar em "caxixe"?
    "__ Dizque é negócio de doutor que toma a terra dos outros..."
    Aqui o narrador explica como era conseguida as terras através do advogado, os coronéis passavam a perna nos plantadores e matavam  pelas costas.
          Fala da febre: "...que matava até macacos...a febre fá-lo ver visões alucinadas. Grita para os demais:
      __ É o lobsomem..."
     A malária só foi erradicada no litoral com a captura do mosquito e o advento do Aralém, remédio que aliviava a febre por volta de 1942 e por um período ainda maior era distribuído pelo Ministério da Saúde,  mas no período do Cíclo do Cacau não havia o combate a doença, os plantadores se embrenhavam na mata e morriam com a febre. Havia um comprimido de quinino que tinha terríveis efeitos colaterais. Bahia teve preocupação com a medicina sanitária tardiamente pelas  condições econômicas, sociopolíticas e culturais que formavam a estrutura social da região. Tinha  economia regionalmente fragmentada;  múltiplos grupos oligárquicos (coronelismo) que mandavam e desmandavam em benefício próprio, e a sociedade não participava, com fortes facções políticas que impediam um avanço médico e também cultural, como é até hoje tratada a saúde no nosso país. Hoje para quem vai viajar para regiões onde existe o mosquito Anofeles deve tomar algumas providências, como calças compridas, mangas longas e usar repelentes. Ainda no Brasil são contaminadas 300.000 pessoas por ano.
       Ilhéus começara a crescer. "Uma cidade pequena, ...de aventureiros e lavradores, onde só se falava em cacau e mortes".
          Damião era Jagunço do coronel Juca Badaró dono da Fazenda Sant'Ana das Alegrias e não sabia contar. "Vou pedir a Don'Ana que me ensine a contar na outra mão. Havia trabalhadores que sabiam contar nos dedos das mãos e dos pés, mas estes eram inteligentes, não eram um negro burro como Damião". Damião não sabia quantos já havia matado. "Que número seria o Firmo?" Firmo era vizinho do Coronel Badaró e era a próxima encomenda.
       É psicológico quando  aparece a subjetividade, Damião faz uma reflexão: "Sempre lhe parecera que ele era trabalhador da fazenda dos Badarós. Agora é que via que era apenas um jagunço". Um assassino.
       Crítica e ironia  relacionadas com a igreja católica: meio contragosto o cônego Freitas se deu por satisfeito porque o coronel Badaró escutava a Bíblia (era evangélica) todas as noites. Dona Ana lê a Bíblia: "E Sinhô Badaró pede que ela repita um versículo, aquele que dizia": "Tomou pois Josué toda a terra das montanhas e do meio-dia, e a terra de Gosen, e a planície, e o distrito ocidental, e monte de Israel e as suas campinas".
       Badaró fala:
      "__ A Bíblia não mente nunca. Nunca me dei mal segundo ela. Nós se toca pra esssas matas de Serqueiro Grande, isso é a vontade de Deus. Hoje ainda tava com dúvida, agora não tenho mais".
      "__ Lê mais Don'Ana... ". "Não terás misericórdia com ele, mas far-lhe-ás pagar vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão e pé por pé".
      "Em meio aos "caxixe", às lutas políticas, às intrigas, e as festas de igreja ou da maçonaria, vivia Tabocas, que antes não tivera nome e agora, pensava em chamar de Itabuna".
      "__ Isto é a última terra do mundo... É um cemitério..." 
     " Em Ilhéus se podia medir a fortuna pelas casa que possuíam que ficavam fechadas o ano inteiro".
             Ilhéus era a penúltima é última esperança e continuava a chegar gente. Conversavam de tudo: "...o pobre de hoje pode ser o rico de amanhã...". "Citavam-se os exemplos e citava-se sempre o Horário que começava tropeiro e agora era dos maiores fazendeiros da zona. E o rico de hoje pode ser o pobre de amanhã, junto com um advogado, fizesse um "caxixe" bem feito e tomasse a sua terra. E todos os vivos de hoje poderia amanhã estar mortos na rua, com uma bala no peito. Por cima da justiça, do juiz e do promotor, do júri de cidadãos, estava a lei do gatilho, a última instância da justiça de Ilhéus".

                                                           "Minha vida é  de penado
                                                           Cheguei e fui amarrado
                                                           Nas gulhetas do cacau"

        Anos depois os cegos cantavam nas feiras:

                                                          "Fazia pena dava dó,
                                                          Tanta gente que morria
                                                          E caía dos Badarós...
                                                          Rolava os corpo no chão,
                                                          Dava dor no coração
                                                          Ver tanta gente morrer,
                                                          Ver  tanta gente matar".

         O narrador encerra o livro descrevendo a rapidez com que o cacau começou a produzir: "cocos do tamanho nunca visto antes, a melhor terra do mundo para o plantio do cacau, aquela terra adubada com sangue".
             

                                                                                                                                                                
   
  



quinta-feira, 27 de outubro de 2011

MINHA CAIXA DE E-MAIL - enviada p/Jair Bernardes Jr - Blog Política e Jardinagem

                                           
                                             TULIPAS
No Norte da Holanda, antes do verão europeu, onde mais de 10 mil hectares são dedicados ao cultivo de tulipas. A paisagem holandesa em maio é um caleidoscópio de cores vertiginosas com as tulipas estourando em vida. Os bulbos foram plantados no final de outubro e início de novembro, e estas criações coloridas estão agora prontos para serem colhidos e vendidos como bouquet de flores em floriculturas e supermercados. Mais de três bilhões de tulipas são plantadas a cada ano na Holanda e dois terços das flores vibrantes são exportados, principalmente para os EUA e Alemanha. Os maiores campos de tulipas na Holanda podem ser encontrado nos jardins de tulipas Keukenhof. Viva este espetáculo maravilhoso da natureza orientada pelas mãos dos homens, em 30 fotografias que selecionamos para vocês.






















sexta-feira, 21 de outubro de 2011

TOLEDO DE TODOS OS TEMPOS

     
A SOCIEDADE É ASSIM:

O POBRE TRABALHA
                                                             O RICO EXPLORA-O
                                                             O SOLDADO DEFENDE OS DOIS
                                                             O CONTRIBUINTE PAGA PELOS TRÊS
                                                             O VAGABUNDO DESCANSA PELOS QUATRO
                                                             O BÊBADO BEBE PELOS CINCO
                                                             O BANQUEIRO "ESFOLA" OS SEIS
                                                             O ADVOGADO ENGANA OS SETE
                                                             O MÉDICO MATA OS OITO
                                                             O COVEIRO ENTERRA OS NOVE
                                                             O POLÍTICO VIVE DOS DEZ

    Os primeiros povos bárbaros que se tem notícias surgiram as margens do Mar do Norte (os jutos, os anglos, os saxões e os frisões). Os francos estabeleceram-se   ao longo do rio Reno, a esquerda e os alamanos a direita deste mesmo rio. Os bungurdios e os vândalos junto ao médio rio Danúbio, vizinhos dos suevos, nas marges do rio Oder e vizinhos destes, os lombardos. Entre o rio Dieper e o Danúbio viviam os visigodos e entre o rio Volga e o Dnieper os ostrogodos.  Estes dois últimos povos bárbaros surgiram da divisão de um outro, os godos. Estes povos procuravam proteção entre as fronteiras naturais dos rios sempre para se proteger de um outro bárbaro porque com frequência eram submetidos as pressões dos povos iranianos (os samatas e os alanos), povo nômade que viviam entre dois rios, o Ural e o Don. Esta região siberiana não oferia terras férteis para o cultivo e viviam na penúria, não conheciam cidades apesar de organizados e estabelecidos como família. Eles avançam e recuam nas fronteiras, saqueiam, mas também se aliam aos brilhantes ostrogodos, jamais derrotados por hunus, visigodos e os vândalos. Estes últimos veja o que diz Gautier em Genséric, roi des Vandales, "exatamente porque eram os mais fracos, eternamente empurrados por trás, é que foram forçados a ir mais longe". O autor estava se referindo aos Vândalos, chamados de "Godos de segunda zona". O Império Romano os atraía pelas riquezas e estes cuidavam de seus limites territoriais com unhas e dentes. Uma linha fortificada, o limes, se estendia ao longo do Reno e do Danúbio. Por ser um Império demasiado vasto, tornou-se difícil de conter as ameaças de outros bárbaros. Um soldado só (Imperador) governava e ficava difícil controlar todas as fronteiras e chegar até ele notícias do que estava acontecendo a centenas de quilômetros. Resolveram dividir em dois para poder atender todos os pontos: o Imperio Ocidental e o Oriental. No século III, usaram os próprios bárbaros como soldados mercenários para proteger as fronteiras. O número de bárbaros chegou a 200.000, eram os visigodos também empurrados pelos hunos, outro povo bárbaro que eram vizinhos e que viviam além do Don. Os visigodos se estabeleceram na Trácia em 376, região ao Norte da Grécia limitando com a Bulgária que  havia sido tomada pelos romanos. O Imperador romano, Valente, pretendia tranformar os visigodos em soldados e colonos. Estes não aceitaram a subjugação e assim surgiu a era das "grandes invasões bábaras". Os mais fortes tomavam parte do Império dos mais fracos. Os visigodos comandados por Alarico rumaram em direção a Roma e saquearam em 410 e tomaram posse de uma vasta região da Gália, com Tolosa (Toulouse) como capital e aí permaneceram por quase um século e foram empurrados pelos francos que tomaram a capital em 507. E os sábios visigodos? Juntam-se aos nômades, se fortalessem e numa linha de fuga atravessam os Pirineus e chegam exatamente no meio do país, que hoje se chama Espanha, em Toledo. Permaneceram e reinaram nesta capital por mais 200 anos. Em 711 vindos da África pelo estreito de Gibraltar, comandados Tarik , os muçulmanos (árabe e berberes) tomam Toledo dos visigodos e estes passaram o posto para Córdoba até o início do século XI. O desenvolvimento cultural europeu se deu com a chegada dos árabes que traziam em sua bagagem conhecimentos de geometria vindos da Grécia, aritmética da Índia e assim começaram as invenções. O agrupamento dessa ciência ensinada nas universidades árabes de Sefarad, nome hebreu dado pelos invasores (Espanha), recebeu o nome de "ciência", que se espalhou aos poucos por toda a Europa. Na Idade Média os berberes começaram a ser chamados de mouros. Este povo judeu da Arábia,  conhecidos pela sua sabedoria eram também chamados  por ladinos, finos e mesmo a contragosto dos europeus foram eles que levaram a cultura ao continente.  A paz deixou de reinar com a chegada dos mouros e desde 718 até 1492 foram séculos de luta chamada de Guerra de Reconquista Espanhola e finalmente expulsos pelos reis católicos Fernando e Isabel. Os judeus se refugiaram em Portugal e muitos confundem a sua própria descendência, que por sua vez empurraram para´o continente mericano, africano e para a Ásia. Toledo voltou a ser sede novamente e  produzia aço, espadas, facas e outras ferramentas. Em 1561, o rei, Felippe II de Espanha  muda a capital para Madrid. Toledo fica no topo de uma montanha cercada pela curva do rio Tejo em três lados e sem dúvida o visitante vai encontrar vestígios de uma história ainda presente.




































































sábado, 8 de outubro de 2011

DOCUMENTAL SOBRE ROBERTO BOLAÑO

 
Marcadores: Terceiro Reich (análise do livro)

TERCEIRO REICH - Roberto Bolaño

     Roberto Bolaño, nasce em 1953 no Chile e morre em 2003 na Espanha. Deixa o romance escrito e publicado em 2010. Escreve na primeira pessoa, com o nome de Edu. Um romance realista quando retrata a sociedade exatamente como nos tempos em que vivia na Espanha. O romance se passa na praia Del Mar, no Mediterrâneo e fica entre Barcelona e a fronteira com a França (no meio do caminho). A realidade das férias que ele e a namorada precisavam, o trabalho que levou com prazo para entregar, o Hotel, o mesmo que passava as férias com os pais, quando ainda jovem. Narrativa de ficção quando recria a própria imagem em suas personagens, todas pessoas comuns como um dia ele foi, o proprietário do pedalinho (o Queimado) e os amigos que fizeram na praia. 
       Com relação a linguagem, de períodos coordenados e longos: “Surpresa: quando me levantei, não deveria ser meio-dia, com as mãos nas costas, o olhar baixo como se procurasse alguma coisa na areia, a pele, a escurecida pelo sol e a queimada pelo fogo, brilhante, quase deixando uma esteira na praia cor de ouro”. Transforma os adjetivos “escurecida” e “queimada” em substantivos. Emprega o recurso usando depois do substantivo “a pele”, um aposto, para evitar os adjetivos. Em lugar de “areia brilhante” ele separa substantivo e adjetivo para evitar o choque de ambos. Deixando o texto elegante. Ele é transgressor quando transforma o romance, numa quase autobiografia, um diário de férias, recria um vigia, profissão que um dia ele exerceu, o amigo Conrad, pessoa com trabalho simples, com uma bagagem cultural, que falava de grandes autores e terras que conhecia. Este seu amigo, “de estranhas olheiras e extrema palidez...”, mas parece a sua própria imagem de homem que já se encontrava doente e intelectual como ele e muito pobre porque só fora reconhecido tarde, como um grande escritor . Romance de verossimilhança, ele retrata o seu tempo, a presença da dona do hotel, Frau Else e o burburinho da praia, entre outros.
       Trás como tema as lembranças, o jogo e as relações amorosas sem desfecho.
      Investigativo e cria suspense (smart thriller),  uma modalidade
 de ficção usada por escritores e novelistas que de forma inteligente faz um suspense e deixa para revelar no final. Aproxima-se do queimado e quer saber mais sobre ele, ou o“amigo” Charly que desaparece provavelmente quando saíra para nadar e ele fica mais tempo em Del Mar, até o encontrar.
      Romance psicológico quando há recordações, recordava Frau Else dez anos atrás entrando na praia escura. Ele trata de uma premonição: “Soou então só em mim? E, se assim foi, contra que perigo pretendia me avisar?” Aqui o narrador lembra Sepp, um amigo, que dizia ter ouvido por duas ocasiões uma música misteriosa, “trombeta do perigo”, relacionada ao cansaço físico. “Quando contei a Ingeborg, ela me recomendou que não ficasse tanto tempo trancado no quarto”. Aqui o narrador relata um sonho entre outros citados: “Sonhei que uma chamada telefônica me acordava. Era o Sr. Pere que desejava que eu fosse - ele se dispunha a me acompanhar - ao quartel da Guarda civil; havia lá um cadáver...”. Agora o sonho premonitório, talvez um aviso do aparecimento do corpo de Charly. Entra no campo da psicanálise, o subconsciente de Udo capta e grava, com carga arquivada,  tudo que se relaciona com o cotidiano, aflora e transforma em sonho, “momento surreal da imaginação”, alucinatório. Veja bem que tudo aconteceu exatamente, antes do sonho e depois do sonho, as preocupações com o amigo.
      O autor aborda o pressentimento quando Frau Else lhe adverte:
     "__ Tenho medo que algo de ruim aconteça com você”.
      __ Sei cuidar de mim. Além do mais, o que poderia acontecer comigo?
       __ Algo de ruim... Às vezes tenho pressentimento... Um pesadelo.”
      Fez crítica social: o desleixo com a cidade que não suporta a temporada de verão, “as ruas fedem”. “O odor provém dos esgotos sobrecarregados!”
     Aborda o preconceito:
    “__De qualquer maneira, não gosto que você suba com o Queimado para o quarto. Sabe o que diriam em meu hotel se algum turista visse você escapulir pelos corredores com essa massa chamuscada?”
     Usa a dicotomia para descrever  seu personagem, o Queimado: “a grande desgraça a ponto de converter-se em outro” (desumanizou-se), e visto também como uma pessoa “que parecia atraente”. Ainda nessa linha descreve-se como sendo “um homem que deita-se sem cansaço, que dorme bem , acorda bem disposto", mas talvez do ponto de vista da velha, a hóspede do hotel, “um homem pálido..., um jovem nervoso, talvez um jovem com problemas de pele.”
     Filosófico quando interroga: “Nunca amei tanto outra pessoa. Por que então esses olhares de mútua desconfiança? Por que não nos amar sem reservas, como criança, aceitando-nos inteiramente?
     Aborda a nudez: Ingeborg e a amiga Hanna passeiam na praia só com a parte debaixo do biquini. O Lobo e Cordeiro, dois espanhóis inconvenientes, que fazem parte do grupo, na praia, ficam nuz para nadar.
     Entrelaça a História da humanidade (no caso a guerra) com o momento narrativo. Descreve-se como um campeão alemão de jogos de guerra. O jogo montado, o Terceiro Reich,  deixou claro que era só o nome do jogo e que não era nazista. Chama o Queimado de jogador mula. “Será que é isto que o Queimado aguarda antes de se render? Não há armas atômicas no Terceiro Reich. O que ele espera então? Qual a sua arma secreta?” Aqui Udo está falando de esperança e paciência como estratégia para ganhar o jogo e o Queimado não entendia disso. Acostumada as narrativas de futebol de Galvão Bueno e seus comentários paralelos, não pude deixar passar esta oportunidade de apresentar a narrativa não de Bueno, mas de Bolaño: “O Queimado perdeu mais de cinqüenta BRPs. O quadro na direção de Leningrado não experimenta mudanças: a linha fica estabelecida em Tallin...As pobres tropas inglesas avistam minhas unidades... E não se movimentam. (Pergunta que eu não faço ao Queimado mas gostaria de fazer: o marido de Frau Else visita-o todas as noites... E de que diabo está doente? Aids?) Na frente Oeste a Operação Leão-Marinho é levado a cabo com êxito...o sétimo exército desembarcando na Inglaterra! (Tentei conter o riso mas não consegui. O Queimado não levou a mal...)”
     Para quem gosta de jogos ou de uma narrativa cheia de suspense este é o livro indicado. Confira.


Indicador: Vídeo (Documental sobre Roberto Bolaño)



domingo, 18 de setembro de 2011

ESQUELETO HUMANO GIGANTE - Por que temê-los?

 ESTA É UMA DAS FOTOS QUE RECEBI POR E-MAIL E MANDEI FAZER UM VÍDEO. O LOCAL DAS ESCAVAÇÕES FICA PRÓXIMO DE UMA ALDEIA CHAMADA KATO NEVROKOPI (GRÉCIA) AO NORDESTE DO MUNICÍPIO DO MESMO NOME, PRÓXIMA DA BULGÁRIA, REGIÃO COM LAGO, MONTANHAS E VALES. COMENTÁ-SE NA INTERNET QUE ALGUMAS FOTOS SÃO ALTERADAS POR MEIO DE COMPUTAÇÃO GRÁFICA, SEM DÚVIDA, UMA SOBREPOSIÇÃO DA FOTO MENOR SOBRE A MAIOR, ATÉ AÍ NADA DIFÍCIL. CONTINUO EM DÚVIDA QUANTO ÀS SOMBRAS EXISTENTES NAS DUAS FOTOS QUE FICAM VOLTADAS PARA O MESMO LADO. ESTA TAMBÉM FOI UMA FOTO ALTERADA? HAJA PERITO BOM PARA DESVENDAR O MISTÉRIO.
       Recebi em 18.09.2011 um novo e-mail falando das descobertas de ossos humanos gigantes encontrados na Grécia, só que o mencionado crânio não apareceu. O primeiro e-mail  e este agora, mencionam a Bíblia. Diz o seguinte:
      "Esta descoberta completamente inesperada prova a existência de "Nephilin".
Nephilin é a palavra usada para descrever o gigante que é falado nos tempos bíblicos por Enoch, e contra o gigante que lutou David (Golias).
     Num. 13:33-"Também vimos ali gigantes, filhos de Anaque, descendentes dos gigantes; e éramos aos nossos olhos como gafanhotos, e assim também éramos aos seus olhos." Gen. 6:04 - "Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama."
    A Bíblia serve como instrumento de pesquisa. Muitas narrativas são de cunho fictício e escrito por vários autores por  exemplos o Pentateuco (cinco livros cada um  com  autores diferentes e em períodos históricos diferentes, sendo o primeiro iniciado até 1000 a.C.) A tradução destes textos passou por várias línguas e cada um dava a sua interpretação como num grande panelão de sopa de letrinhas.  A palavra Nephilin pode significar na língua hebraica "os caídos" e em grego "os gigantes" ou outra completamente diferente. Duas narrativas falando da criação do mundo, uma dizia que o mundo foi criado em um único dia e outra dizia que foi em seis dias. Resumo: juntou-se as duas e ficou sete dias e sete noites.  Portanto temos que ter cautela. O fato histórico que se passou, por exemplo, 1000 a.C só foi narrado em 900 a.C, por um autor que não vivenciou o fato, mas ouviu contar algo que vem de seus antepassados. É por isso que o Antigo Testamento é chamado de Tradição. O Novo Testamento até que se prove o contrário, também é Tradição.
     No momento da pesquisa nada é desprezado, desde que o fanatismo religioso não atrapalhe ou mude o rumo dos trabalhos. Outra coisa: em que nos afeta se um dia nossos ancestrais, ou alguma linhagem saiu mais alta ou bem mais alta? Que diríamos dos pigmeus? Que importâcia tem para mim se eles são de uma raça pequena? Aceitamos porque podemos tocá-los? São seres humanos e os estudamos. Tanto aquele que nega os esqueletos, quanto aquele que afirma sem ter embasamento, está completamente errado. Não adianta dizer que é um concurso de Photoshop. Tem que provar. Algumas fotos até podem fazer parte do concurso, mas nem todas. E por que temê-los? Há algum motivo para escondê-los? A Grécia é um país pequeno e se as escavações foram feitas ao Norte não vai ser tão dificíl conversar com alguém da região. Onde há fumaça há fogo e as outras descobertas? Compete examiná-las, olhá-las e tirar conclusões, com direito a ser visitado por especialistas. 

terça-feira, 13 de setembro de 2011

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

PEGUEI-TE O QUE MESMO: WIKILEAKS


O senhor Julian Assange, o fundador do WikiLeaks que tem cartas na manga, sem dúvida é mais um estrangeiro admirador do nosso Inácio e vice-versa. Pois bem, achei que a Austrália seria o melhor lugar para ele se esconder. Entregou-se aos inglêses. Dessa vêz quem falou foram estes: "Peguei-te australiano". Expressão usada para quem pegava um inglês desavisado: "Peguei-te inglês".  Australiano e inglês, ambos tem o mesmo sangue. Cheguei a pensar em dar asilo ao Julian, mas de que forma? Inácio não sabia que ele iria se entregar. Com aquele "coração de mãe", teria dado asilo a ele? Mesmo assim, a Interpol, poderia vir buscá-lo? Ele também responde por abuso sexual. Quem leu Lolita de Vladimir Nabokov, sabe que algumas meninas crescidinhas, se passam por mulheres e "esfregam os cabelos na cara dos homens", as ninfetas. Não defendo em hipótese alguma o comportamento de Humbert, a personagem,  narrado no romance.  É um caso clínico para os psicólogos e psiquiátras. Os homens que tomem cuidado. Não sei o que aconteceu na Suécia. Julian já andava escondido naquela época? As mulheres o procuraram em seu esconderijo? Hou! Là! Là! Penso. Só a polícia sueca conhece  esta história. Encontre a expressão: "Peguei-te inglês" na  obra de Victor Hugo, Os Trabalhadores do Mar,  resumida nesta página. Confira.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

TRABALHADORES DO MAR - Victor Hugo

          A narativa se prende as lutas do homem, como religião, sociedade e a natureza.    Estas três lutas vem das três necessidades: crer, criar e viver.
        Tudo se passa na ilha de Guernesey (no arquipélago do canal da Mancha).
        Gilliat e Déruchette, os dois personagens criados para a partir daí travar a luta ora sob a superstição, ora sob o preconceito.
        As artes do diabo assustavam os pescadores do mar que se ajoelhavam diante do rochedo Ortoch. Ele inquietava muitas mulheres ortodoxas, que apareciam grávidas. Sendo procurado  por uma mulher o padre aconselhou, apalpe-lhe a cabeça, se encontrar pontas, pode estar certa, é o diabo.
        Gilliat cresceu e viveu na ilha com sua provável mãe que faleceu quando este era adolescente. Ninguém sabia exatamente o parentesco entre os dois e nem a origem. Ele era rústico, tornou-se feroz. Era solitário, isto causava espanto já que sua casa era mal-assombrada antes da vinda deles para a ilha.
        Passava a noite nos penhascos e tocava uma bagpipe (gaita escocesa). Não o achavam pobre, possuía uma casa e alguma terra. Perguntado por uma rapariga quando se casaria, respondeu-lhe: "Casar-me-ei quando se casar a Rocha que Canta".  Era uma pedra que inspirava desconfiança. Um galo invisível cantava próximo dela.
      O narrador aponta duas características diferentes para Gilliat: de um lado o diabo (pela esquisitice que ao mesmo tempo levava ao preconceito) por outro lado, o curandeiro (curava com ervas de sua propriedade, panarícios e febres,...)
      Tinha uma canoa e pescava nas horas de descanso.
      As raparigas o achavam feio. Talvez fosse bonito. Assemelhava-se a um bárbaro antigo e era tisnado pelo sol.
      As moças da ilha eram boas esterqueiras e por este motivo arrumavam casamento. Apanhavam os estercos de vaca e jogavam na parede para aquecimento das casas, com as mãos.
      Gilliat nasceu piloto. Piloto do mar. Comprou uma pança, bojuda e chata, tendo a bombordo e a estibordo duas asas que se batiam alternadamente, conforme o vento, e supriam a quilha. Era mastreado na frente o que aumentava a força de tração do velame. O mastro não impedia a carga. Era uma pança sólida, pesada e suportava bem o mar. Nenhum pescador conseguiu arribar o barco. Gilliat tentou: empurrou o remo e depois a grande escota e tantas outras manobras e fez-se ao largo em direção a barra. Um forte vento sul empurrou-a carregada de pedras e entrou em Saint Simpson.
      Pescava na pança e dava os peixes aos pobres. Era marceneiro, ferreiro, fabricante de carros (calafates), e um pouco mecânico. Possuia uma bigorna e uma pequena forja. Fez uma âncora e substituiu os pregos por   cavilhas, deixando-a em boas condições.
       Os antigos habitantes de Guernesey arrastados pela beleza da vista admiravam a beleza das rochas da ilha que talhadas pelo vento formavam figuras: a Cadeira de Gild Holm-Ur em francês Qui-Dort-Meurt (Quem-dorme-morre) tradução rústica.
        Gilliat sentava-se ali. Sonhava. A maré subia. Morria-se afogado naquele lugar. Até 1822, era uma novidade um navio no canal da Mancha. Franceses e ingleses se cruzavam. Se partiam: "Boa viagem!; se chegavam "Welcome". As  ilhas  do canal da mancha iam se fazendo  inglesas, mas a língua era a francesa " a velha língua do mar" para definir lados e peças do navio. O narrador chamou de língua autóctone. O francês das ilhas costumava empregar a expressão "peguei-te inglês" para um inglês que caía numa armadilha pelo canal.
         Aparece na narrativa dois marinheiros selvagens. O primeiro é Gilliat e o segundo é Lethierry. Sendo  este último, elegante, admirador de lindas mulheres de mãos alvas, adotou sua afilhada órfã, filha de um irmão que ele teve, a Déruchette. Esta cresceu e tornou-se exigente, provável herdeira do tio. Tocava no piano "Bonny Dundee". Gilliat executava a mesma canção na bagpipe, próximo a casa de Déruchette, nas noites escuras e sempre no mesmo horário e ela não gostava.
          Lethiery não era superticioso, não recuava nas tempestades. Possuia a Durande, um navio que lhe rendeu muito dinheiro, e pretendentes a Déruchette.
         Já cansado e sentindo-se velho, entregou a Durande ao capitão Clubin, homem que escondia, debaixo de um véu, um crime. Foi o primeiro a possuir um revólver na ilha causando alguma desconfiança.
     Cobrou uma conta para Lethierry, que considerava perdida. Eram 60.000 francos que Clubin ficava pensando em transformá-los em 600.000 francos quem sabe pela América. De passagem por alguns portos fez carregamento de bois, fardos, sabão, couro, chá e outros. Havia seis passageiros e sete tripulantes.
     A linha reta do mar nem sempre é a linha lógica. Os navios fazem um trajeto e o barco a vela outro. O mar e o vento fazem um composto de forças. O navio é um composto de máquinas. As forças são máquinas infinitas, as máquinas são forças limitadas. Trava-se um combate que se chama navegação. Cabe ao homem espreitar as forças e descobrir-lhe o itinerário. A Durande andava maravilhosamente bem.
     Clubin tinha um plano: fazia desaparecer o navio, atiraria-se ao mar,  uma hora a nado, só uma milha, estava no Hanois, próximo ao formidável rochedo, Douvres. Era medonho o recife ali isolado. O nevoeiro, os escondera. Eram gêmeas as rochas. Parecia perfeito para o plano, mas tinha os seus perigos. Um outro maciço próximo parecia próprio para galgá-lo. Chama-se Homem. Esta rocha era ainda mais alta que as Douvres e ficava a cinco léguas do navio. Para o náufrago, o impossível. A morte por frio. Os 60.000 francos de nada serviriam.Não era Hanois. Era a captura, agonia, o sepulcro. Poderíamos arriscar a dizer que era a justiça divina já que precisava pagar por um crime, dois.
     Soprava o vento. Os bois berravam no porão. A neblina cobrindo tudo, o céu que reaparecia e ficava noites em questões de segundos. Era o horror. Clubin tinha a força de um touro. O mar não podia com ele. Era sóbrio e frio. Parecia simplório. Certa vez disse ao taberneiro: "Restitui-lhe 75 cêntimos, que cobraste a menos quando estive aqui..." 
     Aconselhou-lhe um capitão amigo, não saia. Os cães tem o pelo molhado, os vermes saem do chão e as moscas mordem. Ouve-se um sino ao longe. Tudo indicava que teria nevoeiro. Não lhe digo que parta. Temo mais o nevoeiro que o furacão.
     Clubin errara o caminho. Outros navegadores, no passado, também. Arquiteto laborioso de sua própria emboscada. A tempestade, a noite que se aproximava, a Durande levantada pelo mar, ora pela esquerda, ora pela direita, o demônio tomou seu lugar. Os bois, a carga, o timoneiro, ébrio. Aquele que se cobria com uma armadura rígida, vivia numa pele de homem de bem, acreditava estar bem sucedido. Era o fantasma da retidão. O açúcar no veneno.
      A situação era desesperadora. A Durande naufragara em plano enclinado de popa e proa. Todos salvos pela chalupa, ele, o capitão ficou.
       Estava a 200 metros do rochedo Homem, próximo ao porto de St. Pirre. Era fácil atingi-lo a nado. Despiu-se, amarrou os francos a cintura e jogou-se  ao mar.
     Perdeu-se a Durande nos rochedos Douvres antes do por-do-sol, cochichavam os grupos em terra. O capitão portara-se com dignidade, ficara  no navio. Que homem!
     Lethiery,
o marinheiro, perdera sua obra-prima. Pobre velho! Déruchette lacrimosa.
     Quem iria aos rochedos para salvar o navio, a máquina talvez. Ninguém. Era arriscado. E os paredões. Impossível. Quem ali descia não subia jamais. Se existisse alguém que se arriscasse a chegar a Durande, Déruchette 
se casaria com ele e dava a palavra de honra a Deus.
     
Gilliat,
o engenheiro, se apresentou.
      Partiu com a pança, não esqueceu de nada. Os dois rochedos e o cadáver da
Durande... Era dia claro quando Gilliat chegou
. O escolho era horrível, altivo e arrogante. Impossível atracar. O navio vencido, o abismo vitorioso.
      Deitou a sonda muitas vezes, fazia um desembarque de malotagem: um saco de biscoitos, um saco de farinha de centeio, carne defumada, água, camisas de lã, uma japona e uma pele de carneiro..
     Dali avistava a pequena ilha de Sark algumas milhas das ilhas Jersey (hoje paraíso fiscal) de grande movimento turístico.
      Travou-se uma luta para desembarcar ali. As rochas eram escorregadias e não havia um só lugar que fornecesse porto seguro. Amarrou a pança numa ponta do rochedo. Aproximou-se da  Durande que estava presa, suspensa, trabalho de furacão que tinha a torcido.  O navio quebrou-se como uma ripa. Um pedaço da popa, com a máquina, preso a garganta, entre os dois rochedos. A proa , rolada e levada pelo vento, deslocou-se para os bancos de pedra. Os bois mortos jogados no mar.
      Não podia permanecer ali, tudo era impossível. Não servia de fuga para um criminoso e nem para um ninho de pássaro.
      No rochedo Homem, havia uma plataforma, inacessível. A grande Douvre não podia subir. De fenda em fenda chega a
Durande, que estava no ar. Era sinistro. A tempestade foi pirata. Ninguém, nenhum animal estrangula a pedra como o ar. O vento morde, o mar devora. É um socar e um esmigalhar ao mesmo tempo, igual a pata de um leão, o golpe do mar.       A máquina estava salva o que não impedia de estar perdida.
      Gilliat prendeu alguns ganchos, tentou subir, bateu no rochedo, machucou-se. Atingiu a plataforma. Havia uma cava, uma bacia. Isso era bom. Parecia um túmulo de pedra. Acomodou-se.
      Ir e vir, subir e descer. Trabalhava desde o amanhecer até o deitar do sol. Comia.
      Gilliat visita uma caverna, grotas ferozes, demorava-se nelas, não era conveniente aquele lugar. A maré enchia rapidamente até o teto. Era um edifício debaixo do mar. Viu uma coisa nojenta, era um ente, uma aparência. Sinistra.
Ignorar convida a tentar. Saber, desconcerta às vezes, e desaconselha  a tentar.
              Gilliat gastava todas as suas forças, dificilmente as refazia. Estava magro. Pés descalços. Mãos e braços com chagas. Tinha fome, sede e frio. Esgotava-lhe a vida.
       Deu de comida aos pássaros e estes lhe indicaram o caminho da água. Comia concha crua, que serviam de refrigerante. Assava os caranguejos.
       A chuva gelada atravessava a roupa até a pele e da pele até os ossos. Estava abandonado, isolado e esquecido. Não havia mais o que comer, as mãos e os pés não curavam mais, dilacerados. A perda da força não esgotava a vontade. Cria e queria. Não sentia cansaço. Era um Jó bíblico.
        Onde começa o destino? Onde acaba a Natureza?
        
As enormidades da noite:
"Sou uma alma como vós" "Sou um abismo como tu".
              Gilliat fez um trapiche. A pança deveria subir com a maré. Argolas, correntes, roldanas, cabos eram o que precisava para transportar a máquina para a pança. Construiu um aparelho, viu as polés e verificou as emendas. Tudo examinado. Limou a argola que faltava. Houve um estalo, abriu-se o ventre da
Durande. Nem tudo estava acabado.        Gilliat trabalhava. Respondia o trovão com uma martelada. Fez um trapiche. Tinha fome. Tinha uma sede ardente. Tinha febre, talvez.

      O temporal. A chuva. A pança foi jogada. A claraboia estava quase concluída.
      A tempestade se afastou. Era só o começo. Outra se aproximava, do norte. Violento assalto. "Os marinheiros chamam isso de  vento de esborear. O vento sul tem mais água, o vento norte tem mais raios".
      As avalanches de neve que o mar ajunta, debaixo das quais engole rochedos de mais de 100 pés de altura. Tudo acontecia ali mesmo em Guernesey e em Jersey. O rolo do mar tapou tudo. Gilliat permanecia de pé. Realizou-se tamanho perigo. Fez-se a efração. Foi uma agonia de moribundo. O quebra mar despedaçado. Uma tábua bateu na cabeça. Este cismava trêmulo.
      Passava-se ali alguma coisa funesta. Era o lado da pança. Gilliat correu. A Durande se separou em duas. Era a catástrofe. A pança salva. O terrível se fez horrível. Nada mais horrendo. E a hora hedionda.
     Gilliat voltou a gruta. Pôs a faca nos dentes, desceu do alto das rochas e saltou na água. Entrou, havia um raio de luz. De repente, sentiu que lhe agarravam no braço.
       Um susto. Atirou-se para trás. Aquilo que era flexível como couro, sólido como aço e frio como a noite, vinha do buraco. Lambeu o corpo nu de Gilliat, apertou, queria beber-lhe o sangue.
        A angústia é muda. Nem um grito. O fantasma era enorme. Estava agarrado por correias e por muitas bocas. Gilliat não podia respirar. Era viscoso e tinha dois olhos. Era um polvo de 2,5 metros de diâmetro. O polvo odeia.  Hipócrita estrela-do-mar. Voraz. É peixe. É réptil. É um cefalópode.
        Nunca se deixe apanhar por um deles. Estão pelas rochas. Costuma desenrolar-se e atirar-se sobre  o infeliz.
        Amarelo com cor de poeira, é cinza, é camaleão. Irritado torna-se roxo. Tem a cor da gangrena. Aquele pavor tem seus amores e torna-se fosforescente a noite para amar.
      O polvo, pensa-se, pode levar um navio a pique. O  autor diz que viu um banhista sendo atacado por um, caçado e trazido para a praia media 4 pés ingleses de largura, com quatrocentos chupadores. O mostro agonizante afugentava todos de perto.
     O tigre devora. O polvo aspira. O primeiro come vivo e o segunde bebe vivo. Equivale a oito serpentes.
      Precisa agir. "Negais o vampiro, aparece o polvo". Esses vorazes são coveiros. Gilliat era a mosca na aranha.
     Havia um momento certo para vencer o polvo, como o touro. Este curva o pescoço, aquele estica a cabeça. Sentiu a sucção das 250 ventosas. Não soltou a faca. Ele olhava o polvo e o polvo olhava para ele. Sangrava e estava preso. Precisava de um só golpe. O centro da cabeça. Se lhe agarrasse o peito estava perdido.
     Gilliat esperou, golpe certeiro, no centro, ali, exatamente como aprendera. Fez a faca girar. Estava acabado.
      Salgou seu corpo ferido. Caminhou. Olhou para dentro da cava. Estremeceu.

 Alguma coisa ria para Gilliat. Era uma caveira. Esqueleto completo.  Quem era aquele homem? O que era aquilo envolto ao esqueleto?
     Um cinto intacto. A caixinha de ferro. Abria-se por molas. Estava enferrujada. Usou a faca. A caixa abriu-se. Papéis e 75.000 francos e mais 20 guinéus. Limpou o couro do cinto e leu: "Sr.Clubin".
     Ali travara-se uma luta entre dois monstros. Um agarrou o outro. Sinistras justiças. Clubin foi o engodo do polvo e alimento para os caranguejos.
     Precisava partir pela manhã, com a maré ainda baixa. Já era maio e os dias estavam longos.
    O cano da máquina acima da pança, estava coberto pela espuma da tempestade e tinha uma camada de sal. A pança fazia água. Precisava procurar o buraco a luz da lua.
     A lua desapareceu. Não tinha nada seco e nem um sebo para fazer uma lamparina, nem fogo, nada.
     Só tinha aquela roupa seca. Tirou. Ficou nu. Tremia. Tinha pressa.
    A solidão o envolvia. O vento assoviava. Já lutara corpo a corpo com o oceano.
   Trabalhou sem ferramentas adequadas, carregou fardos sem auxílio e resolveu problemas sem ciência. Comeu sem ter o que comer, bebeu sem ter o que beber e dormiu sem ter onde dormir.
     Venceu: a fome, a sede, o frio, a febre, o trabalho e sono.
     Depois da nudez, o elemento; depois da maré, a tempestade; depois da tempestade, o polvo e depois do polvo o esqueleto.
     Que ironia Clubin rindo para ele. O morto tinha razão. Via-se perdido. Via-se tão morto como ele.
     O inverno passado ali, a fadiga, o transporte da máquina para a pança, tudo isso não era nada diante do buraco feito na pança.
     Subiu o rochedo. Fechou os olhos...
     Parecia não acreditar, ele não estava morto. Suspirou. Vivia. O sol o aqueceu. O calor o abraçou.
     Consertada  a pança com o vento de feição e o mar admirável aportou em Saint-Simpson em Guernesey.
     Quem sabe se ao sair do escolho não entoasse a canção Bonny Dundee.
     Lethiery era prisioneiro da tristeza. No tempo que era feliz, Deus existia, em carne e osso, apertava-lhe a mão. Para ele tudo era negro. Não rezava.
     Déruchette raramente sorria. Parecia preocupada. Não fazia cortesia ao sol: "Bon...jour!... queira entrar". "Sua alegria apagava-se dia a dia, e cobria-se de poeira como a asa de uma borboleta que um alfinete atravessou".
     Lethierry recebeu uma carta de "Rontaine" dizendo que lhe mandara os 75.000 francos por Clubin.
     Deruchetty não perdera o hábito de sair ao jardim pela noite. Andava alguém por ali. Era Gilliat. Estava pálida, lágrima nos olhos.
Gilliat ouvia essas palavras: "Vejo-a todos os domingos e quintas; disseram-me que outrora a senhora não ia lá tantas vezes...Nunca lhe falei, era o meu dever; falo-lhe hoje, é meu dever... O Cashmere parte amanhã; foi por isso que vim... A senhora é pobre. Eu sou rico desde esta manhã. Quer-me por seu marido? ... tu és a minha noiva. Levanta-te e vem. Que o teto azul, onde estão os astros, assista a esta aceitação da minha alma para tua alma, e que o nosso primeiro beijo se misture ao firmamento!"
   Pela manhã Gilliat entra pela sala: "Ah! Meu Filho! Homem da bagpipe! Gilliat! Tocava o sino, te procurava. Onde esta ele? Tu és um anjo. Belisco-me. Tu és meu filho, és meu rapaz, és meu Deus. Nunca vi coisa assim. Vi parisienses que são uns satanáses. Não faziam isto. É pior que a Bastilha"...
"Vi os gaúchos lavrarem nos pampas, tendo por charrua um galho de árvore do comprimento de um côvado e por grade um feixe de espinhos puxados por corda de couro; colheram com isto grãos de trigo do tamanho de avelãs. Os gaúchos não valem dois caracóis perto de ti".     "Senhores, ele foi a Douvres!" Gilliat entrega-lhe os francos. "Compraremos pinho, carvalho, olmo. Que bela Durande vamos fazer, mais comprida. Dinheiro suficiente". "Casas com Déruchete". Gilliat respondeu: "Não a amo". "Há alguma coisa! Não amas Déruchette! Era então para mim que tocavas a bagpipe? Pois trate de amá-la. Só se casará contigo. Estás doente?

       Lethiery não foi ao casamento de Déruchette. Segundo o belo rito do casamento anglicano, o decano olhou em volta de si, e fez a solene pergunta:
     __ Quem dá esta mulher a este homem?
     __ Eu __ disse Gilliat.
     O noivo, Ebenezer e Déruchette sentiram uma vaga opressão através de sua felicidade.
     Depois de prometidos, o decano continuou.
     __ Onde está o anel?
     O noivo não tinha o anel.
     Repito aqui que quando Gilliat perdeu a mãe ficou desolado. A mãe lhe deixara duas arcas de carvalho. Dentre os móveis que ficou  havia uma espécie de cesta (caixa, canastra) que Gilliat abriu e encontrou um enxoval do mais puro linho e belas roupas com um bilhete "Para tua mulher quando te casares".
     __ Decano, está aqui o anel. Gilliat tirou do dedo. Comprado, provavelmente no dia em que chegou das Douvres, para Déruchette.
     O casal se ajoelhava diante de Deus: "Em nome do Padre e do Filho e do Espirito Santo". Gilliat curvava-se ao destino
monstro declarado seu marido. O anjo prestes a partir.
      Gilliat não teve outra ocupação senão a de casá-los; fez tudo: respondeu por Luthiery.
       Dentro de poucos minutos estariam na Angrazinha. Gilliat os acompanhou.
       __ Senhora __ disse ele __ achará a bordo do Cashmire uma caixa com objetos de mulher. Foi minha mãe que mo deu, com um bilhetinho: "Para tua mulher quando te casares".
     
__ Por que não há de guardá-lo para sua mulher quando se casar.
      __ Não me casarei nunca.
      Gilliat seguiu para a barra e o Cashmire abriu as velas. A manhã tinha um quê de nupcial. Ouvia-se no ar um grito de saudação.
A vida que é a esposa, abraçava o infinito, que é o esposo.       Na relva as margaridas, as violetas, as abelhas trabalhando...
      Galgou o parapeito e desceu os arrecifes. Era ali que ficava a Cadeira de Gild-Holm-Ur. Passava de um recife para outro. Uma pescadora gritou:
       __ Cuidado. A maré esta enchendo. Gilliat continuou a andar. Acabava a terra...
       Subiu. Olhou. O Cashmire iria passar por ali. O casal parecia como pássaros. O silêncio era celeste.
      __ Olha! Parece um homem no rochedo.
      Gilliat não tirava os olhos do navio. A água chegava-lhe a cintura. Passou-se uma hora. Passou-se mais uma hora. O Cashmire era uma mancha...
      Foi diminuindo, diminuindo...
      No momento em que o navio se dissipava no horizonte a cabeça de Gilliat desaparecia debaixo da água. Tudo acabou. Só restava o mar. FIM (resumido por Mª de Lourdes Cardoso)