quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

terça-feira, 1 de setembro de 2020

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Carta escrita por Mia Couto ao Presidente Bush

Senhor Presidente:
Sou um escritor de uma nação pobre, um país que já esteve na vossa lista negra. Milhões de moçambicanos desconheciam que mal vos tínhamos feito. Éramos pequenos e pobres: que ameaça poderíamos constituir? A nossa arma de destruição massiva estava, afinal, virada contra nós: era a fome e a miséria...
Alguns de nós estranharam o critério que levava a que o nosso nome fosse manchado enquanto outras nações beneficiavam da vossa simpatia. Por exemplo, o nosso vizinho - a África do Sul do "apartheid" - violava de forma flagrante os direitos humanos.
Durante décadas fomos vítimas da agressão desse regime. Mas o regime do "apartheid" mereceu da vossa parte uma atitude mais branda: o chamado "envolvimento positivo". O ANC esteve também na lista negra como uma "organização terrorista!". Estranho critério que levaria a que, anos mais tarde, os taliban e o próprio Bin Laden fossem chamadas de "freedom fighters" por estrategas norte-americanos.
Pois eu, pobre escritor de um pobre país, tive um sonho. Como Martin Luther King certa vez sonhou que a América era uma nação de todos os americanos. Pois sonhei que eu era não um homem mas um país. Sim, um país que não conseguia dormir. Porque vivia sobressaltado por terríveis factos. E esse temor fez com que proclamasse uma exigência. Uma exigência que tinha a ver consigo, Caro Presidente. E eu exigia que os Estados Unidos da América procedessem à eliminação do seu armamento de destruição massiva.
Por razão desses terríveis perigos eu exigia mais: que inspectores das Nações Unidas fossem enviados para o vosso país. Que terríveis perigos me alertavam? Que receios o vosso país me inspiravam? Não eram produtos de sonho, infelizmente. Eram factos que alimentavam a minha desconfiança. A lista é tão grande que escolherei apenas alguns:
- Os Estados Unidos foram a única nação do mundo que lançou bombas atómicas sobre outras nações;
- O seu país foi a única nação a ser condenada por "uso ilegítimo da força" pelo Tribunal Internacional de Justiça;
- Forças americanas treinaram e armaram fundamentalistas islâmicos mais extremistas (incluindo o terrorista Bin Laden) a pretexto de derrubarem os invasores russos no Afeganistão;
- O regime de Saddam Hussein foi apoiado pelos EUA enquanto praticava as piores atrocidades contra os iraquianos (incluindo o gaseamento dos curdos em 1998);
- Como tantos outros dirigentes legítimos, o africano Patrice Lumumba foi assassinado com ajuda da CIA. Depois de preso e torturado e baleado na cabeça o seu corpo foi dissolvido em ácido clorídrico;
- Como tantos outros fantoches, Mobutu Seseseko foi por vossos agentes conduzido ao poder e concedeu facilidades especiais à espionagem americana: o quartel-general da CIA no Zaire tornou-se o maior em África. A ditadura brutal deste zairense não mereceu nenhum reparo dos EUA até que ele deixou de ser conveniente, em 1992;
- A invasão de Timor Leste pelos militares indonésios mereceu o apoio dos EUA. Quando as atrocidades foram conhecidas, a resposta da Administração Clinton foi "o assunto é da responsabilidade do governo indonésio e não queremos retirar-lhe essa responsabilidade";
- O vosso país albergou criminosos como Emmanuel Constant um dos líderes mais sanguinários do Taiti cujas forças para-militares massacraram milhares de inocentes. Constant foi julgado à revelia e as novas autoridades solicitaram a sua extradição. O governo americano recusou o pedido.
- Em Agosto de 1998, a força aérea dos EUA bombardeou no Sudão uma fábrica de medicamentos, designada Al-Shifa. Um engano? Não, tratava-se de uma retaliação dos atentados bombistas de Nairobi e Dar-es-Saalam.
- Em Dezembro de 1987, os Estados Unidos foi o único país (junto com Israel) a votar contra uma moção de condenação ao terrorismo internacional. Mesmo assim, a moção foi aprovada pelo voto de cento e cinquenta e três países.
- Em 1953, a CIA ajudou a preparar o golpe de Estado contra o Irão na sequência do qual milhares de comunistas do Tudeh foram massacrados. A lista de golpes preparados pela CIA é bem longa.
- Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA bombardearam: a China (1945-46), a Coreia e a China (1950-53), a Guatemala (1954), a Indonésia (1958), Cuba (1959-1961), a Guatemala (1960), o Congo (1964), o Peru (1965), o Laos (1961-1973), o Vietename (1961-1973), o Camboja (1969-1970), a Guatemala (1967-1973), Granada (1983), Líbano (1983-1984), a Líbia (1986), Salvador (1980), a Nicarágua (1980), o Irão(1987), o Panamá (1989), o Iraque (1990-2001), o Kuwait (1991), a Somália (1993), a Bósnia (1994-95), o Sudão (1998), o Afeganistão (1998), a Jugoslávia (1999).
- Acções de terrorismo biológico e químico foram postas em prática pelos EUA: o agente laranja e os desfolhantes no Vietname, o vírus da peste contra Cuba que durante anos devastou a produção suína naquele país.
- O Wall Street Journal publicou um relatório que anunciava que 500 000 crianças vietnamitas nasceram deformadas em consequência da guerra química das forças norte-americanas.
Acordei do pesadelo do sono para o pesadelo da realidade. A guerra que o Senhor Presidente teimou em iniciar poderá libertar-nos de um ditador. Mas ficaremos todos mais pobres. Enfrentaremos maiores dificuldades nas nossas já precárias economias e teremos menos esperança num futuro governado pela razão e pela moral. Teremos menos fé na força reguladora das Nações Unidas e das convenções do direito internacional. Estaremos, enfim, mais sós e mais desamparados.-
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Senhor Presidente:
Iraque não é Saddam. São 22 milhões de mães e filhos, e de homens que trabalham e sonham como fazem os comuns norte-americanos. Preocupamo-nos com os males do regime de Saddam Hussein que são reais. Mas esquece-se os horrores da primeira guerra do Golfo em que perderam a vida mais de 150 000 homens...
O que está destruindo massivamente os iraquianos não são as armas de Saddam. São as sanções que conduziram a uma situação humanitária tão grave que dois coordenadores para ajuda das Nações Unidas (Dennis Halliday e Hans Von Sponeck) pediram a demissão em protesto contra essas mesmas sanções. Explicando a razão da sua renúncia, Halliday escreveu: "Estamos destruindo toda uma sociedade. É tão simples e terrível como isso. E isso é ilegal e imoral". Esse sistema de sanções já levou à morte meio milhão de crianças iraquianas.
Mas a guerra contra o Iraque não está para começar. Já começou há muito tempo. Nas zonas de restrição aérea a Norte e Sul do Iraque acontecem continuamente bombardeamentos desde há 12 anos Acredita-se que 500 iraquianos foram mortos desde 1999. O bombardeamento incluiu o uso massivo de urânio empobrecido (300 toneladas, ou seja 30 vezes mais do que o usado no Kosovo).
Livrar-nos-emos de Saddam. Mas continuaremos prisioneiros da lógica da guerra e da arrogância. Não quero que os meus filhos (nem os seus) vivam dominados pelo fantasma do medo. E que pensem que, para viverem tranquilos, precisam de construir uma fortaleza. E que só estarão seguros quando se tiver que gastar fortunas em armas.
Como o seu país que despende 270 000 000 000 000 dólares (duzentos e setenta biliões de dólares) por ano para manter o arsenal de guerra. O senhor bem sabe o que essa soma poderia ajudar a mudar o destino miserável de milhões de seres. O bispo americano Monsenhor Robert Bowan escreveu- lhe no final do ano passado uma carta intitulada "Porque é que o mundo odeia os EUA?"
O bispo da Igreja Católica da Florida é um ex--combatente na guerra do Vietname. Ele sabe o que é a guerra e escreveu: "O senhor reclama que os EUA são alvo do terrorismo porque defendemos a democracia, a liberdade e os direitos humanos. Que absurdo, Sr. Presidente! Somos alvos dos terroristas porque, na maior parte do mundo, o nosso governo defendeu a ditadura, a escravidão e a exploração humana...
Somos alvos dos terroristas porque somos odiados. E somos odiados porque o nosso governo fez coisas odiosas. Em quantos países agentes do nosso governo depuseram líderes popularmente eleitos substituindo-os por ditadores militares, fantoches desejosos de vender o seu próprio povo às corporações norte-americanas multinacionais? E o bispo conclui: O povo do Canadá desfruta de democracia, de liberdade e de direitos humanos, assim como o povo da Noruega e da Suécia.
Alguma vez o senhor ouviu falar de ataques a embaixadas canadianas, norueguesas ou suecas? Nós somos odiados não porque praticamos a democracia, a liberdade ou os direitos humanos. Somos odiados porque o nosso governo nega essas coisas aos povos dos países do Terceiro Mundo, cujos recursos são cobiçados pelas nossas multinacionais."-
iraque
Senhor Presidente:
Sua Excelência parece não necessitar que uma instituição internacional legitime o seu direito de intervenção militar. Ao menos que possamos nós encontrar moral e verdade na sua argumentação. Eu e mais milhões de cidadãos não ficamos convencidos quando o vimos justificar a guerra. Nós preferíamos vê-lo assinar a Convenção de Quioto para conter o efeito de estufa. Preferíamos tê-lo visto em Durban na Conferência Internacional contra o Racismo. Não se preocupe, senhor Presidente.
A nós, nações pequenas deste mundo, não nos passa pela cabeça exigir a vossa demissão por causa desse apoio que as vossas sucessivas administrações concederam apoio a não menos sucessivos ditadores. A maior ameaça que pesa sobre a América não são armamentos de outros. É o universo de mentira que se criou em redor dos vossos cidadãos.
O perigo não é o regime de Saddam, nem nenhum outro regime. Mas o sentimento de superioridade que parece animar o seu governo. O seu inimigo principal não está fora. Está dentro dos EUA. Essa guerra só pode ser vencida pelos próprios americanos. Eu gostaria de poder festejar o derrube de Saddam Hussein. E festejar com todos os americanos. Mas sem hipocrisia, sem argumentação e consumo de diminuídos mentais. Porque nós, caro Presidente Bush, nós, os povos dos países pequenos, temos uma arma de construção massiva: a capacidade de pensar.

Esta carta, escrita em 2003, permanece mais actual que nunca dez anos depois...

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Hipócrates e a Cloroquina

Libertação da Terra: Antes de curar alguém {Hipócrates}
Hipócrates nasceu em 460 a.C, na Grécia e viveu 110 anos, segundo alguns historiadores. Foi considerado o mais célebre médico da Idade Antiga. Além de estudar medicina, estudou Filosofia e Retórica. Deixou  uma Coleção 53 tratados com ensinamentos médicos. O Juramento usado até hoje pelos formandos de Medicina, vem de Hipócrates. Estudava sempre e percorria a Grécia inteira a procura de novos ensinamentos e novas descobertas, vindas das observações que fazia em seus pacientes. Deixou como exemplo a luta pelo conhecimento que não vinha apenas de Atenas, mas das jornadas que fazia, das constatações relatadas, do fato concreto, do real vivido. No dia da colação de grau,  juram cumprir as palavras de Hipócrates, com formulação nova, porém sem fugir do tema antigo. Em 26 de janeiro de 1951, foi criada a Associação Médica Brasileira (AMB) uma entidade de classe, sem fins lucrativos. Sua missão é defender a qualidade da atenção médica no Brasil, contribuindo para o desenvolvimento da Medicina e a valorização do médico, e vai completar 60 anos. 
ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA E  MANIFESTAÇÃO COM RELAÇÃO AO COVID-19
                                     Hidroxicloroquina na Covid-19
"Um dos documentos (18.05.20) é assinado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), que reuniu 27 especialistas para analisar remédios e terapias aplicadas em pacientes com Covid-19. Segundo os órgãos, diversos procedimentos utilizados atualmente “carecem de apropriada avaliação de efetividade e de segurança”. De acordo com o documento formulado pelas sociedades médicas, a cloroquina e a hidroxicloroquina (receitadas usualmente para malária) não devem ser utilizadas como tratamento de rotina contra o novo coronavírus. Após revisarem três estudos, os especialistas afirmam que “as evidências disponíveis não sugerem benefício clinicamente significativo”.Além disso, os medicamentos representam risco moderado de problemas cardiovasculares nos pacientes, como arritmia.  O uso da cloroquina e da hidroxicloroquina só pode ser considerado, segundo o documento, para casos graves, de pessoas hospitalizadas, em “decisão compartilhada entre o médico e o paciente”. Os profissionais de saúde devem evitar ministrar, ao mesmo tempo, medicamentos que também alterem os batimentos cardíacos."

















sábado, 25 de abril de 2020

Chico Buarque - Tanto Mar

"A data celebra a revolta dos militares portugueses que a 25 de abril de 1974 levaram a cabo um golpe de Estado militar, pondo fim ao regime ditatorial do Estado Novo. Este havia sido liderado por António de Oliveira Salazar, que governou Portugal desde 1933 até 1968." A festa foi celebrada com  cravos vermelhos sendo distribuídos aos militares. 

sábado, 18 de abril de 2020

Torres e as máscaras

Coronavírus: saiba como fazer máscara em casaAs máscaras sempre foram motivos para comentários, temas de filmes e como  peça indispensável para esconder a personagem ou para identificá-la. Em tempos do novo coronavírus a máscara se tornou indispensável, para todos, surgindo assim temas interessantes como o caso das importações,  com tácticas de guerras. Com forte resistência em usá-la, pelo nosso país, até pela escassez, as pessoas se arriscam em sair sem ela. Em terra de festas, de desfiles de toda sorte, ela foi aceita em forma de moda. As costureiras lançam mãos de mil retalhos e vendem no país. Vejo a minha cidade faceira em desfile de máscaras feita pelas mães, tias e avós. O interessante foi a adesão dos jovens numa competição de cores e estampas. A máscara rosa para machões, homens grisalhos, saindo e entrando nos carros. A máscara laranja para a garota. A dama de máscara pretinha,  ninguém tem igual, mas a moda pega. Já são dezenas de pretinhas. São dezenas de rosas, azuis e laranjas. Quem quer andar fora da moda na mais bela praia do nosso estado? Fica a dica, precisa sair, use máscara. Ainda tem quem a use no braço. Logo, logo entrará na moda. 
As máscaras

sábado, 28 de março de 2020

MEXENDO COM LIVROS: Tio Patinhas de quarentena

MEXENDO COM LIVROS: Tio Patinhas de quarentena: Tio Patinhas tem algumas decepções na vida. Nem tudo são flores! As quedas na bolsa na Era FHC, com enfarto. Na gripe suína, depois de uma...

Tio Patinhas de quarentena

6 hábitos de milionários para você aplicar em sua vida - Portal ...Tio Patinhas tem algumas decepções na vida. Nem tudo são flores! As quedas na bolsa na Era FHC, com enfarto. Na gripe suína, depois de uma terapia de inversão, tem recaídas e retrações. Vacinado de lá para cá, está na Forbes, como the best.  O COVID-19, são muitos, nada como uma caverna, para se instruir com Platão. Sono tranquilo, parece tranquilo, acorda antes de terminar a quarentena. Bobagem! É só uma reunião na boca da caverna...