Contava minha avó Inácia que quando morávamos na Peroba, por volta de 1944, e meus pais tinham já os dois primeiros filhos lá se estabeleceram com uma casa de secos e molhados (uma venda). Poucas pessoas apareciam para comprar alguma coisa porque o local era muito afastado de qualquer civilização ficando o sítio mais próximo da Serra Geral do que hoje a BR 101. A localidade não tinha nome e para identificar chamavam de Mata-olho, nome de uma árvore que havia em abundância na região. Esta planta contém um látex que irrita os olhos. A madeira é mole e os índios guaranis ainda hoje utilizam para esculpir pequenos animais. Na minha certidão de nascimento consta que eu nasci no distrito de Peroba pertencente ao município de Sombrio. Peroba também é a denominação dada a alguns tipos de árvores, de madeira dura, pesada e de primeira qualidade. A casa ficava à beira de uma estrada que servia apenas para carros de bois e algum cavaleiro que por lá se aventurava. Havia nos fundos de casa um pequeno piquete onde a junta de bois era amarrada à tardinha com uma vaca leiteira e um cavalo que servia para alguma emergência. Alguns metros quadrados de cana que servia de alimento para os animais, pequeno pasto próximo ao piquete e o pomar.O restante era mata fechada que se juntava com a plantação de cana. Não havia tecido para confecção de roupas, minha avó e minha mãe teciam tranças de palha de tiririca e confeccionavam chapéus, para trocar por tecidos. Minha mãe empreendia uma longa caminhada à pé, durante o trajeto passava em outro sítio, uma amiga se juntava a ela e assim de sítio em sítio mais uma aderia ao grupo. Caminhavam de coivara em coivara até chegar ao rio Mampituba. Faziam uma travessia de canoa para trocar o artesanato, na margem direita, no município de Torres. Minha avó muitas vezes ficava sozinha em casa com as duas crianças ainda muito pequenas (meu irmão, Adroaldo e eu). Num desses dias que estavámos à sós, o sol já havia entrado e cedo minha avó começou a fechar as janelas, pois nuvens de mosquitos vinham do mato e recolheu os netos para o aconchego do lar. Nestas horas, no pequeno pomar cedo escurecia por baixo e quando uma fruta caia assustava todos.
Naquele silêncio de quem mora na mata algo estranho estava acontecendo. Os bois berravam e se agitavam loucamente. Minha avó que não temia nada saltou porta à fora e chegou ao local do piquete. As canas estavam quebradas, os bois emaranhados. Vovó achou muito estranho que em tão pouco espaço de tempo tanta coisa tivesse acontecido. Ouviu e viu o estremecer da plantação em direção ao mato sem poder identificar quem fez aquele estrago. O chão estava pisoteado pelos bois e mesmo assim deu para identificar muito mal pegadas humanas. Concluiu minha avó de que se tratava de índios. Ela e meu pai que acabava de chegar custaram para desenrolar os bois.
Hoje nós sabemos que existe a Caverna dos Bugres em Urubici, no mesmo estado. São várias cavernas. Eram moradas naturais dos índios. Parada obrigatória dos turistas a caminho de Urubici.
Um índio amazonense deu uma entrevista a um biólogo e não pude identificar o local contando história parecida com a da minha avó. Em 1981, uma vaca do vilarejo ficou muito assustada. Correu até o local e lá estavam as pegadas do Mapinguari, o abominável homem ou animal? Três palmos de comprimento, eram as pegadas. O susto na comunidade índigena levou-os abandonar a pequena vila e se estabelecer em um local mais aberto, próximo da margem do rio...
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