No baú de minha vó, havia bonecas dançarinas. Ela estava com uma idade bastante avançada e o vestido preto e o lenço também preto a fazia mais idosa ainda. Levantava depois de servido o café e ela mesma trazia os utensílios para ser lavados por minha mãe. Descia uma escada com degraus altos com ajuda de um bordão. Tinha que esperar o momento certo, para que ela quisesse abrir o encantado baú. Cuidadosa, minhas bonequinhas de louça desapareciam e eu levava um susto quando encontrava deitadinhas sobre as roupas dobradas no baú. Que bom! Pareciam novas e parecia Natal de novo. Quero falar das bonequinhas feitas por minha avó: foram feitas de forma que eu não sei explicar na sua totalidade, a saia de armação da dançarina, de apenas dez centímetros, era de cauda de cavalo que costurada numa cortiça formava um círculo perfeito. Sobre esta primeira armação vinha uma saia que a largura inferior coincidia com o círculo já confecionado. A parte superior era feito de pano branco e as meninas tinham cabeleira e pintadas de ruge. Uma blusinha completava a vestimenta. Meia dúzia de bonequinhas eram levadas com carinho e colocadas sobre a mesa do jantar e ali ela batia e elas deslizavam. Durante a minha vida não me deparei com outra pessoa que fizesse bonequinhas dançarinas, iguais as dá vó Inácia.
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