sexta-feira, 20 de maio de 2011

FILHOS DAS TREVAS - Morris West

      Morris Langlo West, nasceu em St. Kilda em Victória, na Austrália (1916). Ficou doze anos em um mosteiro, mas não se ordenou padre. Conhecedor da religião católica, discordou de algumas posições da igreja. Foi crítico literário.  Em Filhos das Trevas ele critica o poder da igreja e a política. O enriquecimento da igreja mesmo após a guerra quando as crianças dormiam na rua e Nápoles tinha 200 mil pessoas desempregadas. "Dois representantes da igreja são fenômenos na batalha para adquirir fundos em nome da hierarquia eclesiática e das autoridades civis". Critica a formação dos padres, "a educação desenvolve-se com um século de atraso". Divide a pesquisa chamada de "Filhos das Trevas" em três livros: Ver Nápolis e Morrer; Luz nas Trevas e __O que se há-de fazer? Publica em 1957.

                           1º livro - Ver Nápolis e Morrer  
      O narrador nos da esta sensação, de morte. "Os vestígios da guerra erguiam-se por todos os lados".
      Inicia a narrativa dizendo que visitava a Casa dos Meninos, já no prólogo. Narra em primeira pessoa: "Estremeci como se alguém passasse por cima de meu túmulo".  Ele se apresenta como Mauro e é conhecido pelo menino como "gran scritore australiano".      
      Descreve Nápoles através da Rua dos Dois Leprosos: "estreitas gargantas de casa, entre as quais se veem cordas com roupas a secar como bandeiras de um triunfo de miséria". Belíssima e inteligente construção. É breve: ausência do adjetivo, com a presença de substantivos. "Vê-se que fervilham de vida." Esta frase  serve para mostrar a quantidade de pessoas que viviam em Nápolis e também a prole indiscriminada. Quem apresenta a cidade para Mauro é Peppino. Não descreve o personagem para não antecipar a história e também porque o leitor iria tomar como uma narrativa inverossímil. Vejo o trabalho do autor como verossímil, real e sem ficção. Foi para a Itália, lá passou uma temporada, por mais de uma vez  fala na pesquisa, ou seja na elaboração do livro.
      Veja o diálogo entre os dois:
      " __ Nove num quarto?
         __ Na cama. É grande, como pode ver.
         __ Todos?
         __ Que hão de fazer?
      Nas barache (barracas) dormiam quinze no mesmo quarto, como animais.
      "__ Acha certo, Peppino, que o ato sexual se realize diante das crianças, das moças e dos rapazes mais velhos...?" Mais adiante o narrador fala da promiscuidade, do primeiro contato sexual entre a moça e o irmão mais velho. Nem sempre este ato se confirmava e nem por isso ela se prostituia, mas em outros casos permaneciam juntos, unidos pela miséria. A prostituição era grande, mas havia as moças que pacientemente esperavam por um casamento o que era raro, pelo desemprego. Descreve o narrador: "Há na Itália hoje dois ou três milhões de mulheres que vivem na prostituição". A desordem não só causada pela guerra, mas também pelo descaso dos políticos (a corrupção), o clero, e o poder financeiro nas mãos de poucos, não havia nada. Veja pela estatística da prostituição. Assim era a Itália por volta de 1950 a 1956, quando Morris West fazia a pesquisa. Será que os brasileiros sabem em 2011 quantas prostitutas existem aqui? Próximo a rodoviária e zona Norte de Porto Alegre as prostitutas são vistas à luz do dia. O Estado como instituição não está preocupado com elas. São meninas que não frequentaram a escola ou sabem ler e escrever muito mal.  Não são poucas e nós não participamos de guerra alguma. Para onde foram o dinheiro dos nossos impostos? Porque essas meninas não tiveram assistência quando pequenas?

                             2º livro: Luz nas Trevas
      O título sugere que nem tudo está perdido. O trabalho de resgatar os meninos das ruas, acostumados ao que de pior existia, não era fácil. Estas crianças, bem como os adultos não acreditavam nos padres, não eram confiáveis. Os padres não tocavam no coração dos poderosos que frequentavam as igrejas. Isto irrita o narrador. Ele fala em dicotomia. Dicotomia de consciência,  o estrangeiro católico aceita bem ou mal  a participação do clero na ação social e nas reformas políticas ou cívicas. Veja a construção do narrador: " O padre é conhecido como homem e o homem como padre. No Mezzogiorno não era assim".
     O narrador mostra o trabalho do padre Borelli que se transforma em homem de rua (o mesmo que no início da narrativa angariava fundos para a igreja) para poder se aproximar dos meninos. Depois de muita luta consegue levá-los para igreja Materdi que havia sofrido com os bombardeios, mas tinha paredes e teto. A Luz nas Trevas é a esperança, o amor  e a dignidade humana levada às crianças abandonadas de Nápolis, porém dos ricos não vinham nada.
     Manobras de cunho econômico eram realizadas: "o Banco de Nápolis elevou os juros 17% aumentando o valor nominal das obrigações". "...industriais e banqueiros depositavam capitais nos cofres do Partido Comunista para obter certas garantias..." Muito dinheiro saiu também para os bancos americanos...
    "Nem um único dólar, certamente, chegou as  mãos de Borelli!

                           3º livro: __ O que se há-de fazer?
       A fuga dos italianos: Canadá, Estados Unidos, Austrália, Brasil e Argentina é mostrada pelo narrador. Se nós tínhamos alguma dúvida com relação aos imigrantes italianos, não deixou dúvida. Eles fugiram de uma pátria sem solução.
      Havia um objetivo para escrever este livro  e ele buscava. Encontra duas justificativas que ele coloca neste último livro: "O homem não é uma ilha. Uma nação também não o é, neste nosso mundo do século XX. Os pecados de uns recaem sobre as cabeças de todos. O castigo pode ser catastrófico". A outra: "...as crianças de Nápolis não tem voz; empenhei-me a dar uma. Uma criança não pertence a nenhum partido político; uma criança não tem nacionalidade. Assiste-lhe o direito de viver e o direito de esperar. Se estes lhe são negados, é um crime contra a humanidade que todo homem honesto deve denunciar". 
       O narrador insiste: "Uma vez mais o problema está na educação". Neste ponto ele se referia ao papel do clero. Multiplica o número de igreja pelo número de sermões e por aí vai...e a corrupção corria a solta no sul da Itália e muita miséria.
      Finalizou o livro dialogando com Peppino que superou tudo e hoje é um homem de bem:
     "__ No entanto, é verdade, Peppino. É verdade para os indivíduos, as sociedades e as nações. Se eu sou rico, não me agrada que me lembrem que há crianças que dormem nas sargetas. Causam-me mal-estar, azeda-me o vinho, estraga-me o repouso. Se tenho..." o autor prossegue, na mesma linha de pensamento.
     O narrador dá o desfecho: "São filhos do sol, embora vivem nas trevas dos bassi. Tem o fogo do Vesúvio no sangue, mas queima debilmente e mal se lhe nota a fumaça. São os herdeiros de três mil anos de história, mas vivem no vácuo da Europa, num ponto em que o progresso parou... vivem num tempo que não é tempo, mas uma síncope no meio dos séculos."
     Morris West, Mauro ficou difícil concluir este trabalho, pela emoção.
     Volta com Peppino a Casa dos Meninos: "e quando escrever seu livro, dirá que eu era seu amigo...non é vero? Belíssima obra, um único volume divido em três. Confira...
  
     

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