Graciliano publica o livro 1934, em Palmeira dos Índios (Alagoas). Romance de ficção, linguagem regionalista, escreve na primeira pessoa e constrói um "eu protagonista". Ele se envolve na trama com o nome de Paulo Honório e passa a confessar a sua vida, num romance realista, com provas de objetividade quando narra a luta para atingir o que quer a qualquer preço. Seus personagens são vivos como em Machado de Assis (D. Casmurro) e podemos fazer um paralelo entre Bentinho e Paulo Honório, ambos contam suas memórias. Modernista da segunda fase quando se apresenta de forma transformadora, linguagem aberta e sem exposição. Ele é breve, abstem-se do uso de adjetivos e advérbios. Emprega os substantivos "uma estrada", "um pasto" e "uma serraria" para localizar a fazenda e para apresentá-la ao leitor. Decide escrever um livro e propõe que seja elaborado em parceria pela "divisão do trabalho" com amigos que poderíam auxiliá-lo. Este projeto e está calcado no pensamento político do escritor, que significa cooperação e organização dos indivíduos numa sociedade. O projeto não deu certo. Não houve entendimento. Este resultado da não cooperação, da frustação era vista também na vida real do escritor. Pega o leitor de surpresa porque nesta confusão já estão escritos as primeiras páginas. Apresenta-se ao leitor como pessoa que cometeu um crime e ficou preso três anos, nove meses e quinze dias. Foi na prisão que aprendeu a escrita. Na formação do romance se vê três momentos distintos. Sociológico com o emprego da objetividade, quando decide comprar a fazenda São Bernardo. A ascensão a qualquer preço. Usa de estratégia, coordena os passos a seguir para efetuar a compra. Mostra-se arrogante e usa da força como meio para atingir os objetivos. ''O meu fito na vida foi apossar-me das terras de São Bernardo, construir esta casa, plantar algodão, plantar mamona, levantar a serraria e o descaroçado, (...) Apertou o proprietário da fazenda que lhe devia. Vejamos o diálogo travado entre os dois: "São Bernardo não vale o que um papagaio rói." "Devo,não nego, como hei de pagar assim com a faca no peito?" "Deduzida a dívida, os juros, o preço da casa, entreguei-lhe sete contos e quinhentos e cinquenta mil-réis.Não tive remorsos."
A casa que era de seu Paulo entrava no negócio. Era um lote com uma casa. Neste caso "sem remorso" procura através do "eu", denunciar a podridão que vivia o sertanejo, a sociedade com desavenças e através da força resolvia os problemas, sem piedade, sem arrependimentos.
Recuou as cercas da fazenda que o extremante havia avançado depois que este apareceu morto deixando duas filhas empobrecidas. Avança um pouco mais para fora dos limites legais. Trabalhou duro na fazenda fazendo-se respeitar pelos empregados, sem conversas, sem intimidades. A fazenda prosperou, o gado, a produção de algodão. Não faltou o açude e os patos-de-pequim. Recebeu o governador. Sem dúvida um homem próspero. Um burguês. Um coronel. Aborda um pré-capitalismo crescente na época.
O narrador faz uma pequena pausa "com quarenta anos resolvido a se casar." Pôs os olhos na Madalena, uma normalista e o casamento estava consumado dentro de poucos dias. Nasce um filho. Eles já se desentendiam desde os primeiros dias de casados. Segundo momento psicológico (subjetivo). Dialoga com seus pensamentos. Sente ciúmes da Madalena . "Será? Não Será?" É a simbologia presente. Não dá para conversar com Madalena . Ela conversa com os empregados. Distribuiu roupas. Vestido de seda para a Rosa. Preocupado seu Paulo via naquelas conversas um perigo que poderia tomar outro rumo. Madalena era a favor da igualdade entre as pessoas, com idéias socialistas. Aqui o narrador retrata o tempo sociológico. O pouco diálogo que tinham eram ríspidos e sem entendimento. "O diabo." Chamava Madalena de comunista: "Conluiada com o Padilha e tentando afastar os empregados sérios do bom caminho. Sim Senhor, comunista." Ela não entrava no jogo de seu Paulo. Não se rendia. Todos os desentendimentos foram por causa de dinheiro. O material para a escola e assim por diante. Madalena entristeceu. Madalena deitada na cama, morta. Suicídio.
Num terceiro momento ele faz uma outra reflexão psicológica (subjetividade) com uma análise do "eu como protagonista". A queda do protagonista. Ainda censura Madalena, se não tivesse sido assim, poderia estar juntos. Sente-se infeliz. Analisa o seu Ribeiro. Homem bom, instruído que deixou o progresso o engolir. O piar da coruja que durante a narrativa ele menciona, agora provoca sobressaltos. Conta o tempo. Aqui, ele faz uma retrospectiva temporal. Já se passaram dois anos que Madalena se foi, dois anos difíceis. "Julgo que me desmontei em uma errada...Continuo aqui em São Bernardo escrevendo: Estraguei minha vida estupidamente... Se ao menos uma criança chorasse. Nem sequer tenho amizade a meu filho. Que miséria!...Os empregados dormindo. "Patifes!". Quando o narrador se refere a Madalena "se ela não tivesse sido assim" e no final da narrativa na solidão da noite chama os empregados de "patifes", mostra o retrato de uma sociedade doente que não acorda. Diante do sofrimento, da fazenda com problemas, sem arrependidmentos, encerra o livro: "Devo ter um coração miúdo, lacunas no cérebro..." Deita a cabeça na mesa cansado.... Leia e confira a extraordinária narrativa de Graciliano Ramos um romance de propósitos críticos e de tomada de conscência.
Esta imagem foi tirada da Internet. Não quero infringir qualquer direito, assim que solicitada retirarei.
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