
Graça era pouco para definir nosso cavalo que chegara de Porto Alegre para enfeitar o pasto nos fundos de nossa nova moradia. O pai comprara esta casa da mesma pessoa que vendera a primeira para nós em Morro Azul, seu João Ponciano de Barros.
Seu João não esquecera de nada ao fazer a casa: dependência de empregados, instalação sanitária, despensa para os alimentos e um belo pomar. Já ia esquecendo as abelhas, galinhas, patos e a vaca que nos dava o leite.
Para surpresa nossa, muitas casas não tinham instalação sanitária, as privadas eram construídas as margens do rio Paraiso e os dejetos caiam direto na água. O terreno era todo cercado. Perdoem-me não era um terreno, eram terras sem fim. As terras iniciavam na frente da estrada, demarcadas com acácias negras e por mais que eu tentasse nunca consegui percorrer mais que a metade delas.
Via naquelas árvores um toque de romantismo. Espaçoso jardim com dálias, cravos, cravinas, palmas e muitas outras espécies. Como na primeira casa, esta tinha um avarandado que abrangia a frente toda. Dali se observava o jardim e as acácias crescendo cada vez mais. Um caminho de tijolos fora feito para se chegar do portão até a entrada de casa. Na primavera cuidávamos para não pisar nas flores que pendiam nas bordas do caminho.
O cavalo era imensamente alto para quem estava acostumado com um petiço que tínhamos em Torres. Era do Adroaldo, nosso irmão mais velho. Dizia-nos ele que o petiço sorria, tal era a paixão que ele tinha pelo animal.
O Belo, o cavalo que nosso pai ganhara de presente, chegara com algumas recomendações. Não obedece cercas e cancelas muito baixas porque este era um cavalo de hípica, acostumado a saltar e tudo isso ele fazia com muita elegância. Cruzava o riacho que cortava o gramado com belo salto sem precisar molhar os pés, para a nossa alegria. Cuidados daqui e cuidados dali, o cavalo logo aceitou o novo dono, nosso pai. Para pegá-lo, escondia o freio, levava-lhe milho e depois tudo ficava fácil. Todos os dias eu ia até o gramado ver o cavalo pastar, chamar-lhe para mudar um pouco de refeição e levava uma bacia com milho. Olhava-me, aproximava-se o mais que dava, mostrava-lhe o milho, resfolegava e saia em disparada. No dia seguinte lá estava eu jogando o milho, aproximava-se, olhava para mim e dava um belo show. Jogava as patas traseiras para o ar e fugia para bem longe. Zildinha estava com quatro anos apenas, era a formosurinha da casa. Era o quinto filho que nascera depois de nossa mãe e de nosso pai estudar juntos a tabelinha do livro chamado Limitações dos Filhos, que aliás a tabelinha estava funcionando, pois já fazia cinco anos que a mãe não engravidava. Zildinha completou quatro anos, assitindo-me tentar a tratar do cavalo e ele sempre trocando o milho pelo pasto.
Entretida a decorar a declinação terra/terrae do latim, para o dia seguinte, não tive tempo de pensar em nada, mas não deixei de estudar no gramado. Para surpresa minha e de quem estava em casa a Zildinha, aquele pingo de gente, aproximou-se do cavalo que era imenso, como já disse, levou um punhadinho de milho na palminha da mão e com uma cordinha na outra. Laçou o pescoço, apoiou-se com o pezinho no joelho e subiu para sua própria felicidade, para mim foi um espanto. Ela ria muito em cima do cavalo do susto que eu levei e saiu a passear. Ela e o cavalo não se separaram mais... Esta imagem foi tirada da Internet, não quero infringir qualquer direito, no momento solicitado retirarei.
Postedy by Maria de Lourdes Cardoso