segunda-feira, 28 de março de 2011

QUANDO NIETZSCHE CHOROU - Irvin D. Yalom

                                                                                                                                                                                                             Foi escrito pelo psiquiatra Dr. Irvin D. Yalom que nasce em Washington em 1931 e passa parte de sua vida em Stanford onde estudou e lecionou. Escreve o livro em 1992 e narra na 3ª pessoa  a história  acontecida entre 1880 a 1881. Um romance real, pois seus personagens são vivos. O narrador joga com a ficção e a realidade. Encontra-se a ficção, como por exemplo, quando há uma aproximação entre o Dr. Breuer, em Veneza, com a jovem Lou Salomé:

       "__ Dr. Breuer, sou Lou Salomé. Posso?
Fräulein Salomé precisava falar com o Dr. Joseph Breuer (psiquiatra) e apresentar Friedrich Nietzsche que estava doente. Mostra ao doutor uma carta de Richard Wagner para Nietzsche. Eis um pedaço da carta:
     "Vós estais doente! Vós também estais desanimado? Em caso positivo, gostaria tanto de fazer algo para afastar vosso desalento! Como devo começar? Nada mais devo fazer que não esbanjar, meus elogios irrestritos a vós.
     Aceitai-os ao menos, como um espírito amigável, ainda que vos deixo insatisfeito.
                                                   Saudações sinceras do vosso,
                                                                  Richard Wagner"
      Esta carta surpreende o doutor por se tratar de um respeitável mestre e respeitável compositor com seu ciclo de óperas 'O anel dos Nibelungos'.  O autor mostra um fato real. Wagner escreve realmente para o filósofo e até eram amigos. Salomé implora ao médico que trate de Nietzsche "através da conversa". Inicia aqui um romance psicológico e o tratamento. Lou Salomé foi uma bela jovem que fugia os padrões da época por seus romances com intelectuais, era vista como um mito pela sedução e de mulher sensível. Nasceu na Rússia, mas passou grande parte na Alemanha. Salomé na realidade esteve envolvida com Nietzsche. O autor mexe com um "caso" vienense que até o presente momento é motivo de estudos e curiosidades. O Dr. Breuer e a família Pappenheim vinham de uma longínqua cidade chamada Presbourg, hoje Batislava, capital da Eslováquia, ambos judeus da alta sociedade vienense. A personagem do nosso narrador chama-se Anna O. porque foi este nome que Breuer coloca nos seus apontamentos quando tratava da paciente de nome Bherta Pappenheim. Bertha era bonita, inteligente e com 21 anos teve uma crise de alucinações ao cuidar de seu pai que também adoecera. Breuer inicia o tratamento com um método chamado "catarse ou catártico", que consiste em fazer o paciente falar. Com a morte do pai, Bherta só reconhece Breuer. Anna, apesar de grande calor não toma água (hidrofobia). Ele aplica a hipnose, ela toma água e sente-se melhor com duas sessões por dia. O ciúme da esposa leva  Breuer a se despedir de Anna, mas é chamado  às pressas pois a sua paciente debate-se com dores de parto  histérico (pseudocyesis). Ipnotiza-a e parte no dia seguinte para Veneza com a esposa. A noiva de Freud, Mathilde, fica com ciúmes, escreve para ele que lhe responde em carta: "É preciso ser um Breuer para que tal aconteça". Descute-se em psicanálise métodos de ipnoses e que devem ser feitas somente por psiquiatras. Freud estudou e deixou escrito sobre sexo e "libido sexualis". A princesa Marie Bonaparte, amiga de Freud, escreve em seu diário: "No dia 16 de dezembro de 1927, em Viena, Freud contou-me uma história de Breuer [...]. A sequência é conhecida: a recaída de Anne, o fantasma da gravidez, a fuga de Breuer [...]." Freud relatou o caso e até publicou quando Breuer ainda era vivo e a sua filha antes do pai morrer lhe contou o que lera e ele confirmou.
     Freud  se formou em medicina em 1881 em Viena, era amigo da família, frequentava a casa do médico, fazia companhia a esposa, que estava amargurada e se queixava. Estudou em Paris no Hospital da Salpêtrière, foi  professor de grande destaque na época em neuropatologia e  delimita-se ao estudo clínico da histeria. Freud foi e será sempre atual no meio acadêmico, estudou e documentou tudo que aprendeu sozinho. O autor aproveita os estudos de ambos, bem como o tratamento de Bherta para elaborar o romance. Entra na intimidade das personagens quando Nietzsche e Breuer iniciam uma conversa. A paixão médico-paciente ficou insuportável e Breuer usa de estratégia para iniciar tratamento com o filósofo e psicólogo que se negava a se tratar, sofria terrivelmente e estava depressivo por ser rejeitado pela mulher que ele amava, a Lou Salomé. Ele troca o papel de médico passa a ser paciente de Friedrich e confessa a este a paixão que vinha sofrendo pela Anne. Este amor era secreto e a sociedade vienense não podia saber. Era um respeitável médico conhecido até fora da Áustria. O filósofo fazia sucesso como escritor e professor. De revelações em revelações Friedrich se abre com o Dr. Breur e aceita o primeiro tratamento num leito da clínica  do mesmo nome. Aqui eu quero destacar mais uma vez a diferença entre fato e ficção. Temos um fato, Bherta foi tratada com morfina, não caminhava, Breuer se apaixonou realmente por ela e segundo relatos ela também estava apaixonada por ele. A ficção quando o narrador mostra a realidade, com aparência de verdade, como por exemplo as idas e vindas ao hospital, segundo relatos.
          Romance cheio de espectativas e paixões. O leitor acompanha o tratamento ora do médico, ora do filósofo e da paciente. Ambos começam a sentir os efeitos. São os pioneiros da psicanálise: Breuer, Freud e com radicalismo psicológico Nietzsche.
     Para encerrar, o médico entra no quarto e se diz curado para o filósofo. "Os olhos de Nietzsche novamente se enchem de lágrimas, e ele mais uma vez tirou o lenço do bolso." Ambos agradecidos e amigos, despedem-se. O filósofo sai da Clínica e parte de Viena.
    O livro começa falando de Zaratustra e termina com Zaratustra (livro que Nietzsche esboça no início da doença). Confira você mesmo esta grandiosa obra e tente descobrir a ficção da verdade. Apaixonante.
























domingo, 27 de março de 2011

PORTO ALEGRE É DEMAIS

O porrto-alegrense festeja o aniversário da sua cidade. Não importa quantos anos. José Fogaça, em Brasília, quando senador fez letra e música que fala da sua cidade, das tardes de domingo...Há quem diga que Fogaça, quando por duas vezes senador, só fez pelo povo duas músicas: uma a cada oito anos. Pagamos pelas músicas. Fogaça me faz lembrar Gonçalves Dias na Europa com saudades do Brasil. Ele fez uma bela poesia que muitos conhecem: "Minha terra tem palmeiras onde canta o sábia, as aves que aqui  gorjeiam não gorjeiam como lá." Poeta de gabinete nunca se preocupou em entender de sabiás, de palmeiras, não deveria conhecer os problemas do Brasil.  Deve ter morrido sem  saber que sabiá não cantava na palmeira... 
Agora, entrevistado o povo na rua sobre Porto alegre, todos foram unanimes: decepção. O que seria "Porto Alegre é demais" é de menos. Buracos pelo centro, calçadas precisando de reparos. Lixos espalhados pelo chão e lixos amontoados em todos os bairros. Todos os riachos cheios de sacos plásticos, garrafas, móveis, pneus...Pichações, estátuas depedradas. Porto Alegre é demais. Não dá coragem de se pisar pelo centro porque ali a noite foi "privada" e depois lavada. É melhor lavar do que tomar uma outra atitude. Creolina jogada na parada do ônibus na Salgado Filho. Isto é demais. Porteiros de edifícios conhecem a realidade demais... Fogaça, a letra da tua música como a poesia de Gonçaves Dias tem nome. Isto se chama UFANISMO. UFA...é demais. Visitante, tome  um ônibus no centro de Porto Alegre e vá a um bairro. Confira é demais...

terça-feira, 22 de março de 2011

SÃO BERNARDO - Graciliano Ramos

Graciliano publica o livro 1934, em Palmeira dos Índios (Alagoas). Romance de ficção, linguagem regionalista, escreve na primeira pessoa e constrói um "eu protagonista". Ele se envolve na trama com o nome de Paulo Honório e passa a confessar a sua vida, num romance realista,  com provas de objetividade quando narra a luta para atingir o que quer a qualquer preço.  Seus personagens são vivos como em Machado de Assis  (D. Casmurro) e podemos fazer um paralelo entre Bentinho e Paulo Honório, ambos contam suas memórias.   Modernista da segunda fase quando se apresenta de forma transformadora, linguagem aberta e sem exposição. Ele é breve, abstem-se do uso de adjetivos e advérbios. Emprega os substantivos "uma estrada", "um pasto" e "uma serraria" para localizar a fazenda e para apresentá-la ao leitor. Decide escrever um livro e propõe que seja elaborado em parceria pela "divisão do trabalho"  com amigos que poderíam auxiliá-lo. Este projeto e está calcado no pensamento político do escritor, que significa cooperação e organização dos indivíduos numa sociedade. O projeto não deu certo. Não houve entendimento. Este resultado da não cooperação, da frustação era vista também na vida real do escritor. Pega o leitor de surpresa porque  nesta confusão já estão escritos as primeiras páginas.  Apresenta-se ao leitor como pessoa que cometeu um crime e ficou preso três anos, nove meses e quinze dias. Foi na prisão que aprendeu a escrita. Na formação do romance se vê três momentos distintos. Sociológico com o emprego da objetividade,  quando decide comprar a fazenda São Bernardo. A ascensão a qualquer preço. Usa de estratégia, coordena os passos a seguir para efetuar a compra. Mostra-se arrogante e usa da força como meio para atingir os objetivos. ''O meu fito na vida foi apossar-me das terras de São Bernardo, construir esta casa, plantar algodão, plantar mamona, levantar a serraria e o descaroçado, (...) Apertou o proprietário da fazenda que lhe devia. Vejamos o diálogo travado entre os dois: "São Bernardo não vale o que um papagaio rói." "Devo,não nego, como hei de pagar assim com a faca no peito?" "Deduzida a dívida, os juros, o preço da casa, entreguei-lhe sete contos e quinhentos e cinquenta mil-réis.Não tive remorsos." 
A casa que era de seu Paulo entrava no negócio. Era um lote com uma casa.  Neste caso "sem remorso" procura através do "eu", denunciar a podridão que vivia o sertanejo, a sociedade com desavenças e através da força resolvia os problemas, sem piedade, sem arrependimentos.
Recuou as cercas da fazenda que o extremante havia avançado depois que este apareceu morto deixando duas filhas empobrecidas. Avança um pouco  mais para fora dos limites legais. Trabalhou duro na fazenda fazendo-se respeitar pelos empregados, sem conversas, sem intimidades. A fazenda prosperou, o gado, a produção de algodão. Não faltou o açude e os patos-de-pequim. Recebeu o governador. Sem dúvida um homem próspero. Um burguês. Um coronel. Aborda um pré-capitalismo crescente na época.
    O narrador faz  uma pequena  pausa "com quarenta anos resolvido a se casar." Pôs os olhos na Madalena, uma normalista e o casamento estava consumado dentro de poucos dias. Nasce um filho. Eles já se desentendiam  desde os primeiros dias de casados.  Segundo momento psicológico (subjetivo). Dialoga com seus pensamentos. Sente ciúmes da Madalena . "Será? Não Será?" É a simbologia presente. Não dá para conversar com Madalena . Ela conversa com os empregados. Distribuiu roupas. Vestido de seda para a Rosa.  Preocupado seu Paulo via naquelas conversas um perigo que poderia tomar  outro rumo. Madalena era a favor da igualdade entre as pessoas,  com idéias socialistas. Aqui o narrador retrata o tempo sociológico.  O pouco diálogo que tinham eram ríspidos e sem entendimento. "O diabo." Chamava Madalena de comunista: "Conluiada com o Padilha e tentando afastar os empregados sérios do bom caminho. Sim Senhor, comunista." Ela não entrava no jogo de seu Paulo. Não se rendia. Todos os desentendimentos foram por causa de dinheiro. O material para a escola e assim por diante. Madalena entristeceu. Madalena deitada na cama, morta.  Suicídio.
Num terceiro momento ele faz uma outra reflexão psicológica (subjetividade) com uma análise do  "eu como protagonista". A queda do protagonista. Ainda censura Madalena, se não tivesse sido assim, poderia estar juntos. Sente-se infeliz. Analisa o seu Ribeiro. Homem bom, instruído que deixou o progresso o engolir. O piar da coruja que durante a narrativa ele menciona, agora provoca sobressaltos. Conta o tempo. Aqui, ele faz uma retrospectiva temporal. Já se passaram dois anos que Madalena se foi, dois anos difíceis.  "Julgo que me desmontei em uma errada...Continuo aqui em São Bernardo escrevendo:  Estraguei minha vida estupidamente... Se ao menos uma criança chorasse. Nem sequer tenho amizade a meu filho. Que miséria!...Os empregados dormindo. "Patifes!".  Quando o narrador se refere a Madalena "se ela não tivesse sido assim" e no final da narrativa na solidão da noite chama os empregados de "patifes", mostra o retrato de uma sociedade doente que não acorda. Diante do sofrimento, da fazenda com problemas, sem arrependidmentos, encerra o livro: "Devo ter um coração miúdo, lacunas no cérebro..." Deita a cabeça na mesa cansado.... Leia e confira a extraordinária narrativa de Graciliano Ramos um romance de propósitos críticos e de tomada de conscência.
Esta imagem foi tirada da Internet. Não quero infringir qualquer direito, assim que solicitada retirarei.

segunda-feira, 21 de março de 2011

A LUA E O PERIGEU p/Paco Bellido

Este castelo fica na cidade de Jaén. O local é conhecido por Cerro de Santa Catalina, fica no Município de Espejo província de Córdoba (Andalusia) na Espanha e construído na Idade Média. A Espanha é um berço de muitos castelos. Esta foto foi tirada no dia 19 de março quando a lua estava na proximidade máxima com terra, o perigeu.O fotógrafo Paco Bellido colocou a foto em seu blog "O beijo na lua" e amazings.es o  denominou de "superluna".  A foto foi feita com ajuda de um telescópio. Confira a matéria.