segunda-feira, 15 de novembro de 2010

MINHA VÓ IGNÁCIA E SANTA CATARINA DE SENA

                                                    Muito devota de todos os santos, minha vó, tinha santinhos de todos os cantos da terra, por onde fora canonizado algum. Ela tinha a estampinha e a oração. Pedia para que ela abrisse o baú e me  mostrasse os anginhos que ela tinha guardado, com aqueles rostinhos redondos, rosados e olhinhos azuis. Tinha também suas preferências. Era devota de Santa Catarina de Sena. Uma religiosa da Ordem Terceira de São Domingos. Pedia a Santa Catarina que curasse gripes e todo tipo de peste que poderia estar pela terra. Fazia o sinal da cruz, beijava a foto da santinha, rezava com muita fé e guardava novamente no baú. Contava minha vó que esta santa tinha seguidores por toda parte, porque ela havia pacificado, havia falado com Jesus e ela tinha ditado muitas cartas que levaram a todos a união e a fé. Disse que uma madre religiosa havia construído um convento o maior do mundo, (há um outro convento, também muito grande) que todos os habitantes da cidade trabalharam de sol a sol para terminar a tal obra e que se chamava o Mosteiro de Santa Catarina. E esta devoção se espalhou pela America do Sul trazida pelos padres missionários.
      Muitos anos depois passando por Arequipa, desgarrei-me do grupo, e visitei o mosteiro que fica próximo do Hotel e  da Praça das Armas .Minha vó estava certa. As notícias correram Andes abaixo. A obra é monumental. Chama-se Monasterio de Santa Catalina. Pasmem, pena que vovó já não era mais viva, para contar-lhes  o que vi.
      A religiosa era viúva de dom Diogo de Mendonça,  muito rica chamada dona Maria de Guzmán. Mandou construir o convento sob a égide de Santa Catarina de Sena, e sob os ensinamentos de São Domingos, ou seja as freiras dominicanas.  Entraram para o convento as moças ricas de Arequipa e arredores que recebiam dotes mensais dos pais, alguns até proprietários de minas (alguém me falou em minas de ouro).
     As paredes do convento são de  pedra tem a espessura de meio metro, para aguentar o frio dos Andes e possíveis terremotos. A arquitetura é belíssima. Uma cidadela com inúmeras ruelas, jardins internos e fonte.  Cada religiosa tinha o seu apartamento completo. Impressiona o forno e fogão a lenha juntos nos apartamentos, com uma escrava para cada uma, que deveria fazer pães e vender  para a população pela janela. A louçaria era de porcelana inglesa com desenhos pintados a ouro. A prataria também fazia parte. O mobiliário está completo. O guia apontou para um quadro. Um quadro pintado a óleo chamava atenção pela perfeição da pintura dos olhos,  os olhos nos seguiam para qualquer lado que íamos. Caminhei de um lado para outro para me certificar do que estava vendo. Lembrei-me então das aulas do ginásio, onde a  irmã Regina (prof. do ginásio)  havia falado desse quadro. Os ricos espanhóis trouxeram para o Peru pintores de Sevilha para pintar e ensinar, no caso, mais parece uma obra de grande pintor. Em Porto Alegre, numa exposição, vi o auto-retrato de Sarah Bernad que, também  me impressionou. As escravas dormiam quase ao relento, numa cama de pedra com cimento e sem colchão. O quarto mal dava para entrar,  apenas uma abertura de porta que dá para as ruelas centrais com uma cortina servindo de porta.  A  temperatura chega abaixo de  zero graus, a uma altitude 2.378 metros.  A cidadela possui 20.400 metros quadrados. Viveram ali entre religiosas e leigos aproximadamente 500 pessoas. Eles não sabem ao certo o motivo da grandeza da obra. Poderia ter servido de esconderijo ou por motivos de terremotos. Não sabem, também o que se passou  dentro do convento. Tombado pela UNESCO, é o único mosteiro  formando uma cidadela no mundo. Paga-se para se fazer a visita. As recepcionistas mais parecem umas aeromoças. Recebem a todos com muita elegância e perguntam logo em qual idioma se quer que o  guia lhe dê as explicações. Certa de que não falariam a minha língua, disse arranhando em francês que era brasileira e queria um guia que falasse português. A minha solicitação não foi contemplada, como eu previ. Sorrimos. Na entrada estava a foto da madre, num quadro mandado fazer por um Papa, no qual ele fez questão que colocasse na cabeça da diretora, as aspas do demônio.  Eu vi e não pude fotografar, porque não havia levado flash. Há também quem diga que a madre foi beatificada pelo Papa João Paulo II, pois o demônio fez um milagre e substituiram as guampas da freira por rosas, mas a cara de diabo continua lá. Se passar por Arequipa, confira.  

Um comentário:

  1. Olá, Maria de Lourdes,

    obrigada pela visita, apesar de simples, seu comentário me trouxe alegria, pq estava a resolver se parava ou continuava, devido o curto tempo e tanta coisa para dar conta.
    Foi a resposta que eu precisava para continuar.
    Deus a abençõe muito!
    Christiani Rodrigues

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