Émile Zola, nasce em 1840 em Paris e morre em 1902 por um escapamento de gás, quando dormia, também em Paris. Era odiado pela sociedade de direita, mas não ficou comprovado o assassinato vinculado ao acidente na época. Agitou a sociedade parisiense depois de escrever J'accuse (Eu acuso) em 1898 pedindo a absolvição no "Caso Dreyfus" e publicado no Jornal L'aurore com o título de: LETRE AO PRESIDENT DE LA REPUBLIQUE. O capitão, Dreyfus, do exército fora condenado por um crime que não havia cometido e que envolvia poderosos do exército da França e fora dela. Três anos antes da condenação, Rui Barbosa escreve um artigo na Inglaterra se referindo a acusação de Dreyfus três anos antes de Zola que se pode ler em um pequeno livro Zola/Rui Barbosa contendo: Eu acuso...! do primeiro e O Processo do Capitão Dreyfus, do segundo. Perante a inteligência do grande jurista há quem diga que foi ele quem absolveu o capitão. O artigo escrito por Rui foi lido no Brasil e publicado em Buenos Aires e não se tem prova de que tenha chegado até Paris. Rui enviou lições ao nosso Judiciário: "Como quer que seja, na Inglaterra a forma inquisitória dada em França a esse julgamento seria hoje impossível. O Times, a tradição viva deste país, exprimiu o sentimento inglês sobre o assunto num artigo memorável. Não sei resistir ao prazer de transcrever-lhe os trechos capitais. Fá-lo-ei, porque, além de tudo, nenhum país necessita mais de lições como esta do que o Brasil destes dias." Rui com seu artigo dá uma aula de mestre, mas os ingratos compatriotas não publicam, ele fazia sombras aos políticos corruptos da época.
Em Germinal, narrador retrata neste ano o que havia acontecido no ano de 1866 com os trabalhadores das minas na França. Um projeto de construção de um Estado voltado para a sociedade para denunciar a sociedade burguesa e uma greve dos mineiros para pedir melhores condições de vida, melhor salário. Permanece por dois meses e meio, vai morar com os mineiros, naqueles casebres, trabalha por dois meses nas minas, empurra vagonetes e frequenta as mesmas tavernas. O livro é o resultado de fatos reais acontecidos em data anterior e parte do fato para a ficção e dele resulta um romance com amor, ciúmes, dor, separação e mortes. Romance realista-naturalista de narrativa impessoal feita em terceira pessoa. Um trabalho que o consagrou por ser um romance ou por escrever em tese, assim como Eça de Queirós, Charles Darwin, Balzac, Carl Marx, sendo este último escritor focado no mundo capital. Zola como observador, pesquisador é também um cintificista. Mostra ao leitor uma riqueza verbal com narrativas no Presente: "Meu nome é Etienne Lantier, sou maquinista...Tem trabalho aqui?". Ainda: "O rapaz punha escoras de madeia em uma parte do teto que estava cedendo", embora o emprego seja no Pretérito Imperfeito do Indicativo, este fato presenciado nos remete para o presente, mas de passado não concluído, imperfeito. Um flashback, um tempo passado: "Para evitar uma tragédia Etienne correu até as máquinas." Outro exemplo verbal, o narrador-pesquisador emprega o Futuro do Condicional: "...a vitória dos burgueses de Montsou fora acompanhada pelo mal-estar das consequências da greve, e eles se perguntavam se o seu fim não estaria próximo (n'était pas près)", um tempo indicativo que se aproxima de um futuro, empregado pelo narrador, que aponta para uma germinação.
A fome, a falta do pão, o abandono dos menores em busca do que comer e a morte rondando os lares. A prole, daí o proletariado, vista como um amparo ora dos pais para com os filhos e destes para com os país. O casamento muito cedo e o desmonte desta ajuda mútua, deste empréstimo do pão. Da o nome de Germinal, extraído do calendário da Revolução francesa, significando a germinação, bem como, o mês seguinte era floral, mês das flores e por último pradial o mês das pradarias, representando a primavera.
Karl Marx havia mexido com a sociedade geral juntamente com Engels abordando o capital, a ganância dos poderosos e a exploração dos pobres. A obra de Marx serviu de tema para vários autores que em seus romances denunciam o poder dos burgueses sobre os proletários. Assim Tólstoy escreve sobre a sociedade russa oprimida pelos capitalistas em todos os campos da sociedade.
O romance tem como tema a exploração dos mineiros que sucumbem de fome, mostra a ignorância, a supremacia dos poderosos sobre os assalariados e um princípio de lucidez que recai sobre os mineiros, semente que germinará no momento certo. Esta abertura abordada pelo autor vai passando do inconsciente para o consciente à medida que a dor aumenta em cada trabalhador. Aborda o medo, a represália que resultaria dessa abertura:
"__ Se a gente reclama , logo é despedidida. O velho tem razão, o mineiro sempre vai pagar o pato, sem esperança de qualquer recompensa." Observando esta abertura, é o mesmo que se dá com a semente no momento em que é aquecida, na primavera. Este estado de aquecimento provocado pelo sofrimento com jornadas de trabalho ora sobre a neve e ora no calor sufocante das minas, despertariam como queria o narrador: "No fundo da terra germinará uma semente, e um belo dia, os homens brotariam da terra, um exército de homens que viria restabelecer a justiça". Assim escreve: "Étinne estava inflamado. Uma predisposição à revolta o impelia à luta entre o trabalho e o capital, numa primeira ilusão, que era fruto da sua ignorância. Agora tratava-se da Associação Internacional dos Trabalhadores, a famosa Internacional que acabava de ser criada em Londres, 1864. A carta princípios tinha sido escrita por Karl Marx."
Situa as minas de carvão ao Norte da França como Marchienne e Montsou, duas horas a pé, em direção ao centro de Voreux. Boa Morte é o nome que o narrador escolhe para um velho mineiro. Depois de sair das proximidades de Montsou vai até a grande mina de Voreux e se apresenta para Étinne e explica que leva este apelido por que escapou três vezes da morte dentro das minas. Características do naturalismo, como a hereditariedade, pode ser destacada: Boa Morte era da famila Maheu e seu tio Guillaume foi quem descobriu a hulha gorda ou carvão-de-pedra, combustível mineral fóssil e sólido de onde se origina o gás para iluminação e o alcatrão. O velho explicou que dentro de dois anos tinha direito a uma aposentadoria com salário de cento e oitenta francos. Maheu tossiu e cuspiu negro.
Diálogo travado entre Maheu e Étienne:
"O campanário da igreja deu quatro horas: o frio estava mais forte.
__ A companhia é rica?
__ É, sim. Tem milhões e milhões, nem dá para contar. São dezenove galerias, treze para exploração e seis para bombeamento de água e ventilação. Dez mil operários, concessão que se estende por sessenta e sete aldeias, extração de cinco mil toneladas por dia, uma estrada de ferro que liga todas as galerias, oficinas e fábricas ! Ah! dinheiro é o que não falta." Aqui já se percebe a filosofia marxista denunciada de forma dura n'O Capital. Mostra a produção, a expansão das minas "sessenta e sete aldeias" e dinheiro é o que não falta". Escreve Marx "(...) não parece existir limite na riqueza e na posição, esta crematística não encontra nenhum limite a sua ambição que a de se enriquecer de um modo absoluto." Era a degradação social e ambiental que crescia desde os tempos de Aristóteles, o enriquecimento voltado para o homem através de artimanhas conhecida por plus-valia. Um estudo que recaísse sobre a ecologia e a economia não era aprofundado, até a marxismo. Apesar do cientificismo, de um ideal humanista e do naturalismo em alta, o homem no seu individualismo passa por cima de qualquer conceito ditado pelo Renascimento, por Marx e Engels.
Aqui um trecho da narrativa mostrando como são as habitações dos trabalhadores, o lugar que Étienne morava: "Ele vivia na intimidade da família; substituiu o irmão mais velho de Catherine, dividindo a cama com Jeanlin, ao lado da cama dela. Ao se deitar e ao se levantar, devia se vestir diante da moça, que também trocava a roupa na frente de todos. O rapaz se emocionava ao ver aquela pele tão branca, que parecia ser mergulhada no leite; só as mãos e o rosto estavam estragados pelo carvão e pelo sabão que Catherine usava (...) Além dos pais estarem ao lado, sentia pela moça um misto de amizade e rancor que o impedia de mostrar seu desejo."
Em 1919, Morris West escreve Filhos das Trevas, escrito depois dos bombardeios da guerra inicida em 1914, quando veio para a Itália. Veja a semelhança no diálogo entre o narrador e Peppino, personagem que permanece do início ao fim da obra:
" __ Nove num quarto?
__ Na cama. É grande, como pode ver.
__ Todos?
__ Que hão de fazer?
Nas barache (barracas) dormiam quinze no mesmo quarto, como animais.
"__ Acha certo, Peppino, que o ato sexual se realize diante das crianças, das moças e dos rapazes mais velhos...?"
Tanto em Germinal como em Filho das Trevas, o primeiro mostrando como eram as condições de vida dos trabalhadores e no segundo o pouco caso da burguesia e políticos italianos depois da guerra que abandonaram por completo a pobreza e dormiam em barracas, denunciado Morris West.
O narrador, em Germinal foca a falta de dinheiro, e a consequência da falta deste recaia sobre as crianças que sem destino andavan pela rua. "Para se esconder, os garotos se deitavam uns sobre os outros. Hennebeau viu muito bem os meninos em cima da menina e pensou e como as crianças já sabiam se divertir". Margarte Duras em seu livro O Amante fala dessa mesma situação em que se encontravam as crianças em Saigon e ela também uma criança precisava dar cabo "daquele assunto" que um dia teria que acontecer. "Em volta dela os desertos, os filhos são o deserto, não realizarão nada, a terra também árida, o dinheiro perdido, tudo acabado. Resta aquela menina crescer e que talvez um dia possa trazer dinheiro para casa. Por esse motivo, sem o saber, a mãe permite que a filha saia com aquelas roupas de prostituta infantil. É por este motivo também que a menina já sabe muito bem o que fazer."
O narrador mostra a indignação a que chegou as mulheres grevistas perante as ameaças das força armada: "(...) não encontrando nada excepcional para lhe dizer, lançou a pior afronta: levantou a saia, abaixou a calcinha e mostrou a bunda.
__Tomem! E olhem que está muito limpa para vocês!
E ela virava a bunda para todos os lados, dizendo:
__Aqui está para o oficial! Aqui, para o sargento! E agora para os militares!
(...)Formou-se uma verdadeira chuva de tijolos, que eram lançados em pedaços ou inteiros. (...) Os homens resolveram entrar na batalha e a saraivada de pedras aumentou. (...)os oficiais apontaram os fuzis e disparam três tiros, depois cinco e em seguida houve uma fuzilaria. (...) Tudo parecia terminado quando um último tiro partiu, isolado, com atraso.
Atingido no coração, Maheu, deu uma volta e caiu com o rosto numa poça de água, preta de carvão. (...) Ao ver seus olhos vazios e a espuma sangrenta que lhe escorria da boca: ela compreendeu, seu homem estava morto. A mulher sentou com a filha nos braços, como se fosse um pacote e ficou olhando para o seu velho, bestificada."
Caminhando Étinne retoma seus pensamentos depois daquela "vitória" dos burgueses sobre os mineiros e eles se perguntavam se seu fim não estava próximo. Retoma Darwin, cientista admirado pelo autor : "Será que Darwin tinha razão: o mundo se tornaria um campo de batalha, com os fortes comendo os fracos para a melhoria da continuação da espécie? Essa questão o perturbou, mas uma idéia iluminou suas dúvidas: em seu primeiro discurso retomaria (parlerait) antiga explicação da teoria. Se fosse preciso que uma classe destruísse a outra, não seria o povo, cheio de vida, que devoraria (mangerait) a burguesia, enfraquecida de tanto luxo? O sangue novo renovaria a sociedade. Na espera da invasão dos bárbaros, para regenerar as antigas nações caducas, sua fé numa revolução próxima, ressurgiria absoluta, a verdadeira revolução, a dos trabalhadores, dont l'incendie embracerait la fin du século".
Neste parágrafo destaco o emprego do verbo pelo narrador, numa tendência ora filosófica, ora psicológica. A primeira faz uma alusão ao pensamento de Darwin, cientista, questionado por Étinne sobre a Teoria das Espécies. Vive também um momento de explosão da consciência numa reflexão psicológica do que pode e do que não pode acontecer dali para frente e busca no tempo do verbo condicional como: parlerait, emblaicerait, não imperativo, apenas uma ideologia, com relação a germinação, uma tomada de consciência, um sangue novo, um pensamento hegeliano e marxista, mas de narrativa proposital para mexer com a sociedade. A explosão (l'incendie embracerait) da semente plantada no início do discurso, incendiaria? Em 1848, quando foi redigida a Constituição francesa e adotado os substantivos: Liberté, Igualité e Fraternité, fica sendo definido como um princípio da República, "(...) uma obra de compromisso.
De um lado, entre o liberalismo – claramente afirmado com a declaração
preambular de redução gradual das despesas públicas e dos impostos – e o
socialismo democrático. Compromisso, de outro lado, entre os valores
conservadores – a Família, a Propriedade e a Ordem pública, invocados com letra
maiúscula no inciso IV do preâmbulo – e o progresso e a civilização (preâmbulo,
inciso I). É interessante observar, a esse respeito, que, enquanto as anteriores
declarações de direitos da Revolução Francesa não fizeram referência alguma à
família, o preâmbulo da Constituição de 1848 menciona-a nada menos do que quatro
vezes. Por outro lado, a orientação do ensino público, como dispõe o art. 13,
não é para a formação do cidadão, mas sim para o mercado de trabalho." Os princípios da República, com a Igualdade como clamor, não forma um casamento com a disposição do art. 13, em que a Constituição não tem compromisso em formar os cidadão para todas as áreas, como por exemplo, a formação de cientistas, mas somente para o mercado de trabalho. O autor escreve o romance, trinta e três anos depois da Lei.
Vou responder a pergunta sobre em que pessoa ou pessoas foi narrado Germinal, para isto necessito de retomar a leitura.
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ResponderExcluirFoi acrescentado ao texto a pergunta acima, bem como a alguns exemplos da linguagem verbal.