quarta-feira, 21 de março de 2018

FREUD - Caso grave de Hemianestesia em um homem histérico


          Observação de um caso grave de Hemianestesia em um homem histérico (1866)
     Como nas observações de Charcot que aponta para sintomas especiais em caso de histeria, os “estigmas histéricos”,  Freud foi desafiado em Viena a provar que o homem podia sofrer desse mal  e depois de uma segunda tentativa encontra  um paciente masculino que se ofereceu para ser estudado. Era August P. de 29 anos e trabalhava como gravador numa empresa há dez anos. O paciente carregava um grande trauma familiar ao perder os pais, com mais cinco irmãos e entre eles, um foi tratado em Berlim com histeria. Assim na Sociedade de Medicina de Viena ele apresenta o paciente que ele já havia conversado e examinado. Não foi dispensado o histórico desde muito pequeno ao sofrer um acidente que comprometeu o tímpano. Terminou o curso primário e era um estudioso como aprendiz de gravador e exercitou-se no desenho. Com o decorrer dos anos veio a sofrer de palpitações. Desentende-se com o irmão que tinha uma vida desregrada, que o ameaçou de morte com uma faca. Assustado correu até a casa e caiu junto a porta. Ao acordar do desmaio, sentiu zumbidos, estava  muito fraco com dores de cabeça, com pressão intracraneana e com o lado esquerdo alterado. Após três anos desse incidente foi acusado por uma mulher de roubo, por quinze dias sofreu alterações no quadro que já havia se revelado e com depressão chegou a pensar em suicídio. Sofria de pesadelos, como cair de lugares altos, perda do sono e muitas dores do lado esquerdo do corpo. Todas as áreas foram afetadas, como garganta, ouvido, abdomem, joelho esquerdo e planta do pé.
Quadro do paciente: Nenhuma patologia nos órgãos internos; muito pálido. Dores com compressão no ponto de saída dos nervos supra-orbital e infra-orbital ou do mento; com alteração nevrálgica no trigêmio esquerdo, com sensibilidade na abóboda craniana, a pele não sofre qualquer estímulo nesse ponto, não reage a alfinete, beliscões e no torcer o lobo da orelha. Anestesiado. Examinado pelo Dr. Konigstein com poliopia monocular (ceratocone), o paciente via mais de uma imagem ao mesmo tempo de um determinado objeto e com problema para detectar cores, com prioridades para o cinza. Foi poupado da perda da audição do ouvido esquerdo. Nenhuma reação no braço esquerdo com testes de olhos abertos e testes de olhos vendados, o paciente não distinguia a própria mão esquerda da mão de Freud ao tocar com a mão direita. Zonas histerógenas sensíveis como o nervo trigêmio e suas ramificações: Resultado de imagem para nervo trigêmeo e suas ramificações                                                 Com todo o lado esquerdo comprometido como o cordão espermático que estava sensível a dor na cavidade abdominal e na mulher corresponde a sede da “ovaralgia”. O paciente sofre com a perna direita com hipoestesia, no lado externo e na panturrilha.
Expectativa e cura:  Foram feitos testes de sensibilidade elétrica na pele e com os testes repetitivos havia variações nas zonas dolorosas e as perturbações da visão também oscilavam, o que levou Freud a ter esperança de restaurar a sensitividade do paciente em pouco tempo.


sábado, 17 de março de 2018

FREUD - PUBLICAÇÕES PRÉ-PSICANALÍTICAS E ESBOÇO INÉDITO


                    Imagem relacionada      VOL I (1886-1899)                   
                       Prefácio geral da edição inglesa
    Freud não era só um hábil neuroanatomista e fisiologista, também era versado nos clássicos gregos e latinos e literaturas: alemã, inglesa, francesa, italiana e espanhol
   Ao escrever fazia remissões, com datas de intervalos longos e sempre com alterações.
   Ao ser traduzido travou-se um embate ao se confrontar com o estilo literário e quando o projeto da Standart Edition considerau como vantagem de ter uma única pessoa  para trabalhar em todo o texto,  a versão anterior já havia sofrido alterações. 
   Perante a obscuridade em algumas passagens foi sacrificado a elegância estilística por uma tradução literal e assim moldado para “inglês ver”, com uma série de termos técnicos, expressões estereotipadas e neologismos que  não serviam para “ingleses”, assim como aspectos verbais que não havia um correspondente na língua inglesa. Alguma recorrências como “Unlust” foi traduzido por “unpleasure” (desprazer) e “Schmerz” para “pain” (dor).  Esta regra nem sempre funcionava, haja vista a probabilidade de se encontrar variantes apesar de ser sinônimas: “ychiscpsh” traduzido por “psychical” (psíquico) e “sílex” por “mental” (mental).
    Fica os agradecimentos a Associação Americana de Psicanalistas, do qual sou membro honorário. Ao Dr. K.R. Eissler com os Arquivos Sigmund Freud e da Biblioteca de Psiquiatria do estado de Nova Iorque. Dr. Alexandre Grinstein e seu Indez of Psychoanalytic Writings. Otto Feneceu e Ernest Kris. Instituto de Psicanale e o Comitê de Publicações. As correspondências de Ernest Jones. Dra. Sylia Payne. Srtª Anna Freud, a minha esposa, Dr. Alan Tyson e a SrªAngela Harris.
                                                                              James Strachey
                                                                                                                Marlow, 1966

  Em 1885, Freud ganhou uma bolsa e passou seis meses no Hospice Salpêtrière junto com o Dr. Jean Martin Charcot para o estudo da anatomia do sistema nervoso e voltou-se para psicopatologia (12/1885).
    O Professor lecionava no seu próprio hospital há 17 anos e Freud queria saber sobre problemas anatômicos, estudo das atrofias e degenerações secundárias que se seguem as afecções do cérebro nas crianças. Por falta de espaço e organização, desistiu da anatomia e ficou com as relações dos músculos da coluna posterior da “medulla oblongatta”. Junto com o Professor viu pacientes, examinou e ouviu a opinião  dele, do qual recebeu grande estímulo, assim como todos os estudantes estrangeiros que formavam com Freud uma turma.
   As neuroses, principalmente a histeria, era estudada tanto em homens como em mulheres. Não havia definição ao termo histeria, um estudo mórbido a que se aplicasse ao nome por caracterizar apenas sinais negativos. Havia uma suposição de que a doença dependia de irritação genital, sem nenhuma sintomatologia definida. Charcot partiu dos quadros mais definidos da doença, reduziu a conexão entre neurose e o sistema genital a suas proporções corretas, nos casos de histeria masculina e, especialmente, de histeria traumática. O estudo da histeria masculina (que geralmente não é reconhecida), e em particular a histeria que se segue a um trauma foi ilustrado por ele como o caso de um paciente que durante cerca de três meses, foi o ponto central dos estudos de Charcot. A histeria foi retirada do caos das neuroses, diferenciada de outros estudos de aparência semelhante. Nos casos típicos da doença: procurou sinais somáticos (a natureza do ataque, a anestesia, os distúrbios da visão, os pontos estrógenos, etc.) As indicações  positivas ajudou a estabelecer o diagnóstico de outros estados de aparência semelhante. Charcot separou e deu a histeria particularidades que não deixou dúvidas de que nela imperasse uma lei e uma ordem. Passou dos estudos de paralisias e artralgias histéricas (problema nas articulações) para o das atrofias histéricas.
     Freud contou com conhecimento dos fenômenos do hipnotismo e em especial, os  “grand hypnotisme”, descrito com muita naturalidade por Charcot. Ele via o hipnotismo como uma experiência científica e não se mostrava encantado com o que lhe parecia raro.
     Freud esteve também com o Dr.  Pierre Marie Félix Janet ,que se dedicava as formas de atrofia  muscular hereditária, excluídas do sistema nervoso, mas aos cuidados dos neuropatologistas,  médico e psicólogo do Salpêtrère, que contribui de forma  relevante nas doenças hereditárias e suas consequências. Ainda viu as doenças de Ménière (zumbidos), de esclerose múltipla, de tabes (degeneração dos nuerônios com desequilíbrio), acompanhada de doenças das articulações descrita por Charcot, da epilepsia parcial, e de outros formas de doenças que compõem o acervo de material  das clínicas  e dos ambulatórios de doenças nervosas. Nesse período aparecem as doenças  funcionais como a coréia (doença hereditária e degenerativa), as diversas formas de “tiques”, como por exemplo a doença de Gilles de La Tourette, hoje associada ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), integra-se ao “Espectro Obsessivo-Compulsivo”, despertando o interesse de centros de pesquisa. Aborda o transtorno em sua perspectiva.  Esteve com Professor Ranvier, do College de Franc, viu a preparação de células nervosas e neurológicas. Com passagem por Berlim esteve com Mendel entre outros e tirou dúvidas relacionadas com a localização do sentido da visão, no córtex cerebral.
                                      
                                                                           Viena, Páscoa                                                                                                                                                                                                                                                                                 1886