domingo, 12 de janeiro de 2014

FORA DE CONTEXTO - Jacques Lacan

                           O ANALISTA DO FUTURO   
     Paris dorme às 3h da madrugada. Uma voz gaguejante atende ao telefonema que lhe interompeu o melhor do sono:
     __Alo.
     __Alo, Richard
     __Aloo.
     __Alo, Martin Richard?
     __Oui, qui l'est?
     __C'est Lacan.
     __Qui?
     __Jacques Lacan.
     __Docteur? Oui, bon jour.
     __Ecuote, Richard, j'espère ne pas être trouble ... Je lis un travaille son de La lettre sur les aveugles (A carta sobre os cegos), de Diderot, j'apprécie beaucoup, et je voudrais discuter de certains points avec vous personnellement.
     __Mas Avec le plus grand plaisir, docteur.
     __Que Bon! Lorsque youcan (Quando você pode?)
     __Lorsque vous voulez, docteur, dites-moi, je vais le trouver.
     __Ah, Comme vous êtes gentil, Richard; vous attendent, puis au café du coin à Saint Michel de la jetée, dans les 30 minutes.
     E desligou.
     Martin Richard ficou com o telefone na mão, com pouco tempo para se decidir o que fazer. Não tinha coragem de ligar de volta para Lacan, eram 3h05 da manhã, não se fazia isso. Também não podia deixar o doutor - esperando sozinho no café.
     Só teve tempo para vestir seu jeans e jaqueta, calçar seus tênis, pegar sua bolsa de livros, descer correndo as escadas, montar em sua bicicleta e aproveitar o leve declive do Boulevard Magenta para ganhar velocidade.
     Entrou no café disfarçando a falta de ar e deparou com Lacan em uma mesa de canto, rodeado de papéis. Com o melhor dos seus sorrisos, o doutor lhe estendeu a mão, repetindo.
      __Puxa, comme vous êtes gentil, Richard.
     Jacques Lacan gostava de dizer que tinha 5anos. Aos 5 anos a pessoa tem um querer direto, sem intermediários, é diferente do querer querelante e reivindicativo dos 15 anos, e do querer conforme às regras do adulto. Mas vale um detalhe; ter 5 anos após uma análise, chegar aos 5 anos pelo convívio diário com o Real - conceito lacaniano que se refere a impossibilidade da nomeação total de seu desejo ("o que será que será que nunca tem nome e nunca terá?") - é diferente de ter por biologia ou retardo.

Bibliografia:
O analista do futuro  (2a. edição da revista memória da PSICANÁLISE)
Veja texto na integra de Jorge Forbes, p.14
O diálogo na íntegra encontra-se em português e a versão em francês é
 de minha autoria.




Psicanálise



Nenhum comentário:

Postar um comentário